Seja bem-vindo ao curso O culto cristão na Bíblia e na história!
Este encontro informa sobre os objetivos, público-alvo, dinâmica e ambientes deste curso.
A primeira edição deste material foi escrita em 2004, com o objetivo de treinar pessoas ligadas a ministérios de música e condução de liturgias. Com o tempo ele se mostrou útil para líderes, especialmente oficiais e coordenadores de ministérios, que queriam entender por que a Igreja Presbiteriana adota determinadas práticas de culto. O conteúdo foi bem recebido por cristãos desejosos de conhecer o que a Bíblia ensina sobre a adoração cristã. Por fim, fiz uso da maioria destes estudos em aulas de Teologia do Culto, ministradas no Seminário Presbiteriano de Brasília.
O curso apresenta e discute alguns tópicos atuais. É realizado presencialmente, com currículo e agenda semanais, e também pode ser acessado nesta plataforma EaD.
Neste curso você aprende sobre a base bíblica do culto cristão. Confere como ele foi praticado ao longo da história da igreja e de que modo o entendimento sobre a adoração ao Senhor se desenvolveu, dentro da IPB. Compreende por que o culto praticado hoje, em nossa igreja, se distingue do culto puritano inglês, do século XVII e de outros modelos, praticados por igrejas evangélicas contemporâneas.
Ao longo das aulas, serão respondidas as seguintes perguntas: (1) O que é adoração cristã? (2) De que modo o culto a Deus foi praticado ao longo da história da salvação, no contexto dos pactos bíblicos? (3) Como o culto foi praticado antes e depois da Reforma Protestante do século XVI? (4) O calendário litúrgico da igreja é importante? (5) O que é princípio regulador de culto e como ele nos ajuda hoje?
Este curso nasce daquilo que os antigos denominavam “pulga atrás da orelha” (no caso, a orelha deste autor). Apesar da afirmação de alguns, celebrando o “avivamento” da Igreja Evangélica Brasileira, especialmente por conta das grandes igrejas com celebrações pujantes, olhos e ouvidos atentos sentem desconforto diante de algumas coisas. Para começar, o que chamamos hoje de “adoração” parece cada vez mais um exercício religioso centrado no homem. “Vida” e “espiritualidade” são tidas como opostas à “decência e ordem”. Surgem novas expressões e caem preconceitos quanto a estilos e instrumentos musicais, nem sempre consistentes com a doutrina sadia. Além disso, os cânticos manipulam emoções e sobrepujam a pregação. A assembleia reverente cede lugar à “celebração” e ao evento digital, ávido por “engajamento”. A estética de “templo” é substituída pela do galpão industrial, equipado e decorado como recinto de entretenimento, onde se aplaude e dança. Populariza-se o culto como experiência passiva, algo que “eu assisto”, ao invés do oferecimento a Deus de “sacrifício de louvor, que é o fruto de lábios que confessam o seu nome” (Hb 13.15). E as pessoas avaliam o valor do culto não por sua biblicidade, e sim pela medida de seus sentimentos e impressões.
Para piorar, há controvérsia por todo lado. Cristãos protestantes e evangélicos afirmam que a Bíblia os dirige, mas na prática, cada denominação (e dentro das denominações, cada congregação) assume uma forma de culto distinta. Há igrejas que não utilizam uma liturgia ou plano de culto. E mesmo entre as que utilizam, não há consenso sobre o formato da adoração — o que é bíblico? O que pode e não pode ser incluído? Como oferecer cultos que agradam a Deus? Igrejas litúrgicas julgam as inovadoras. E estas rotulam as litúrgicas como obsoletas (irrelevantes para a cultura).
Até o termo “bíblico” exige explicação, porque uma reunião dita cristã pode conter objetos e práticas que constam na Bíblia e, mesmo assim, não cultuar de modo agradável a Deus. Indumentária rabínica, arca da aliança, candelabro, chofar, exorcismos, ósculo santo como cumprimento cristão, uso do véu pelas mulheres, ou línguas e profecias inspiradas nas práticas das igrejas de Corinto ou Tessalônica, nada disso consigna um ajuntamento como culto cristão.
Se isso não bastasse, surge uma polêmica intramuros, dos novos puritanos, calcada na afirmação de que Deus se agrada somente do culto que rejeita a tradição litúrgica da Igreja Antiga, Medieval e do evangelicalismo de fronteira. A tradição litúrgica de fronteira “é a que predomina hoje no protestantismo americano e é particularmente conspícua no evangelismo televisivo”. Alguns hinos do Novo cântico, hinário utilizado pela Igreja Presbiteriana do Brasil, provêm desta “herança litúrgica” do “protestantismo de fronteira”. Os defensores de um culto mais puro, sugerem que “culto verdadeiramente reformado” implica salmodia exclusiva, ou seja, no culto cristão, somente os Salmos podem ser cantados. Isso se contrapõe à prática da Igreja Presbiteriana do Brasil (salmodia inclusiva), que postula o uso dos Salmos, hinos antigos e cânticos contemporâneos, adequados ao culto. Os adeptos da salmodia exclusiva também sugerem que o canto deve ser à capela, e rejeitam cultos de Páscoa e Natal. O culto que não se alinha aos padrões deles é rotulado como “neopresbiteriano”, “arminiano-carismático” e “apóstata”. E a lista de práticas reprovadas pode incluir oração e pregação pública de mulheres, recursos visuais e culto online. Resumindo, para este grupo, somente agrada a Deus o culto segundo o modelo de adoração puritana, majoritário no presbiterianismo até o século XIX.
A Igreja Presbiteriana do Brasil (IPB) não se alinha às proposições dos novos puritanos. É herdeira da Reforma do século XVI e adota “como sistema expositivo de doutrina e prática a sua Confissão de fé e os Catecismos maior e breve”. Identifica-se com os símbolos de Westminster, influenciados pelo puritanismo do século XVII e essa assimilação transparece em seus Princípios de liturgia (PL/IPB) e Manual do culto (MC/IPB). Entretanto, a IPB não subscreve o Diretório de culto de Westminster, que prescreve o cântico exclusivo de salmos e a supressão do calendário cristão. No HNC a IPB se assume como denominação cristã de salmodia inclusiva, influenciada pela hinódia da Igreja Antiga e Medieval, bem como pelos avivamentos e pelo evangelicalismo de fronteira (séculos XVIII e XIX). Em outras palavras, adota os símbolos de Westminster não como entidades canônicas e sim como referenciais produzidos em determinado momento histórico, subordinados à interpretação sadia das Sagradas Escrituras para a igreja de hoje.
Sendo assim, este curso tem a finalidade última de promover a paz, bem como nos instruir e motivar a cultuar a Deus de modo agradável a ele, “em espírito e em verdade” (Jo 4.23-24).