Quando eu era mais jovem, alguém me explicou Mateus 6.5-8 argumentando que ler a Bíblia e orar não podem ser práticas rotineiras e mecânicas. Na ocasião eu concordei com tal ensino, entendendo que rotina e mecânica não são condizentes com uma espiritualidade verdadeira. Hoje considero defeituosa esta ideia de considerar ruins a rotina e os atos mecânicos.
Enquanto produzo este texto, minha mente administra o alvoroço de múltiplas conexões e meus dedos se movem rapidamente sobre o teclado do computador. Os dedos “sabem” onde as diferentes letras estão localizadas no teclado e este ato mecânico libera meu cérebro para processar ideias e transformá-las em palavras e sentenças desta pastoral. Eu também escrevo numa quarta-feira, cumprindo uma rotina que permite enviar o Boletim para a gráfica dentro de um prazo determinado, garantindo sua distribuição na manhã do domingo.
Cristãos inteligentes sabem que precisamos tanto de rotinas quanto de atos mecânicos para acordar em hora determinada, tomar banho, cuidar da higiene bucal e encarar cada dia. Digitamos senhas e pagamos contas. Cumprimos prazos. Deixamos e pegamos os filhos na escola, tomamos nossas refeições e nos deitamos para dormir. Estas rotinas e atos mecânicos configuram o que chamamos de vida responsável ou adulta.
É correto assumir uma rotina e um mecanismo, estabelecer tempo e lugar fixos para ler a Bíblia e orar. Se não fazemos isso, não lemos a Escritura regularmente, muito menos oramos. Não há problema em ler a Bíblia e orar como práticas rotineiras e mecânicas, quem sabe até seguindo um plano de leitura. O problema é fazer isso ou qualquer outra coisa movido por justiça própria, a tolice de tentar impressionar Deus e outras pessoas com nossa pretensa espiritualidade, ou de pensar que podemos exigir algo de Deus simplesmente porque somos assíduos e pontuais em nossos momentos devocionais (Lc 18.11-14).
O melhor é enquadrar a rotina e os atos mecânicos na moldura do amor. Nós passamos a amar melhor as coisas e pessoas a quem dedicamos mais tempo (Mt 6.21). Por isso, assumamos a leitura da Bíblia e a oração como exercícios benditos de amor a Deus (1Co 13.1-3).
Pr. Misael