Mantenha a si em paz, primeiro, e então você poderá pacificar outras pessoas. O homem pacífico realiza mais bem do que aquele que é erudito. Um homem irascível vira até o bem em mal, e facilmente acredita no mal. Um homem bom, pacífico, vira todas as coisas para o bem. Aquele que está bem, em paz, não suspeita [de] ninguém (1Coríntios 13.5). Mas o que está descontente e preocupado é agitado com suspeitas diversas. Nem ele está quieto, nem deixa os outros estar quietos. Muitas vezes fala aquilo que não deveria falar; e deixa de falar aquilo que mais convinha falar. Ele considera o que os outros devem fazer (Mateus 7.3), e negligencia aquilo que ele próprio deveria fazer.
Primeiro, portanto, seja zeloso no que diz respeito a você mesmo (Atos 1.7; 22.3; João 21.22), e então você pode, com justiça, ser zeloso para com seu próximo. Você sabe como desculpar e colorir seus próprios feitos, mas não está disposto a receber as desculpas de outrem. Seria mais justo que você se acusasse e desculpasse seu irmão. Se você quer que os outros o suportem, suporte você a outra pessoa também (Gálatas 6.2; 1Coríntios 13.7).
[…] Não é difícil associar-se com os bons e gentis, pois isso é naturalmente agradável para todos, e toda pessoa tem disposição para sentir paz, e ama mais quem concorda com ela. Mas poder viver pacificamente com pessoas difíceis, e perversas, ou indisciplinadas, é uma grande graça e um feito muitíssimo louvável e corajoso.
Alguns há que se mantêm em paz, e estão em paz também com os outros. E há alguns que nem estão em paz eles próprios, nem deixam os outros em paz. São problemáticos para os outros, mas sempre mais problemáticos para si. E há alguns que se conservam em paz, e estudam como trazer outros à paz.
Não obstante, toda nossa paz nesta vida miserável consiste mais em sofrimento humilde do que em não sentir as adversidades. Quem mais souber como sofrer, manterá a maior paz. Esse tal é vencedor de si mesmo e senhor do mundo, amigo de Cristo e herdeiro do céu.
KEMPIS, Thomas à Kempis. A Imitação de Cristo. São Paulo: Shedd Publicações, 2001, p. 62-63. Este livro de à Kempis moldou a espiritualidade dos reformadores do século 16 [Rev. Misael]. Publicado no Boletim 151, de 18/11/2012.