Quando eu era criança, na igreja, haviam duas brincadeiras interessantes para a nossa reflexão de hoje. Uma delas, que você já deve ter experimentado, acontecia quando entrávamos no carro de alguém que dirigia mal. Logo surgia a pergunta: “você já confessou os seus pecados?” A outra brincadeira, semelhante à primeira, era a simples pergunta lançada diretamente: “se você morrer hoje, vai para o céu ou para o inferno?” Note que a pergunta era feita entre os amigos da igreja, que, pelo menos em tese, já tinham vida com Jesus. A qualificação “hoje” dava a entender que alguém deveria se assegurar diariamente de que estava apto a ir para o céu.
Essas eram brincadeiras infantis, mas expressavam uma convicção teológica. Se eu preciso me assegurar de que vou para o céu hoje, é porque talvez a minha condição não esteja tão firme assim. Se eu preciso confessar os pecados agora para não morrer e ir ao inferno, é porque o meu destino não é tão certo assim.
Essa tese foi avaliada na reunião (sínodo) realizada no séc. 17, na cidade de Dort (Holanda). Ela afirmava que a perseverança dos crentes na fé não era obra da graça de Deus, mas um dever do esforço humano. Em outras palavras, o resultado final de nossa salvação está em nossas mãos: se perseverarmos, seremos salvos; se não perseverarmos, teremos “caído da graça”.
O documento produzido pelo sínodo (Cânones de Dort, cap. 5, art. 9), coloca a questão da seguinte maneira:
Os crentes podem estar certos e estão certos desta preservação dos eleitos para salvação e da perserverança dos verdadeiros crentes na fé. Esta certeza é de acordo com a medida de sua fé, pela qual eles creem com certeza que são e permanecerão verdadeiros e vivos membros da igreja, e que têm o perdão de pecados e a vida eterna.
É verdade que nós lutamos com pecados e podemos cair, como os Cânones reconhecem, citando os exemplos de Davi e Pedro. Mas nos lembramos da verdade mais profunda que anuncia estarmos seguros:
As minhas ovelhas ouvem a minha voz; eu as conheço, e elas me seguem. Eu lhes dou a vida eterna, e elas jamais perecerão; ninguém as poderá arrancar da minha mão. Meu Pai, que as deu para mim, é maior do que todos; ninguém as pode arrancar da mão de meu Pai (Jo 10.27-29).
A doutrina da perseverança dos santos anuncia que a obra que Deus começou em nós será concluída. Não precisamos temer ou andar ansiosos, porque o amor de Deus para conosco não muda. Isso estabelece a quinta e última letra do acróstico TULIP, como segue:
Total depravity | Depravação total
Unconditional election | Eleição incondicional
Limited atonement | Expiação limitada
Irresistible grace | Graça irresistível
Perseverance of saints | Perseverança dos santos
Desde o Sínodo de Dort, cristãos bíblicos do mundo inteiro apreciam a tulipa como flor que simboliza a doutrina bíblica da salvação.
Nesse dia do segundo turno das eleições, quer nosso candidato ganhe ou perca, devemos lembrar da graciosa doutrina que anuncia sermos “mais que vencedores” em Cristo Jesus, e que “nada poderá nos separar” do seu amor (Rm 8.37-39).
Pr. Allen.