Uma família de discípulos de Jesus
Capa sermões em Deuteronômio 1024x1024

O Deus fiel corrige [Dt 2.9-15]

9 Então, o Senhor me disse: Não molestes Moabe e não contendas com eles em peleja, porque te não darei possessão da sua terra; pois dei Ar em possessão aos filhos de Ló. 10 (Os emins, dantes, habitavam nela, povo grande, numeroso e alto como os anaquins; 11 também eles foram considerados refains, como os anaquins; e os moabitas lhes chamavam emins. 12 Os horeus também habitavam, outrora, em Seir; porém os filhos de Esaú os desapossaram, e os destruíram de diante de si, e habitaram no lugar deles, [assim como Israel fez à terra da sua possessão, que o Senhor lhes tinha dado.)]
13 Levantai-vos, agora, e passai o ribeiro de Zerede; assim, passamos o ribeiro de Zerede. 14 O tempo que caminhamos, desde Cades-Barneia até passarmos o ribeiro de Zerede, foram trinta e oito anos, até que toda aquela geração dos homens de guerra se consumiu do meio do arraial, como o Senhor lhes jurara. 15 Também foi contra eles a mão do Senhor, para os destruir do meio do arraial, até os haver consumido. Deuteronômio 2.9-15.

Sermão do Pastor Misael Batista do Nascimento. Pregado na Igreja Presbiteriana de São José do Rio Preto, no culto da manhã, em 09/11/2025.

Introdução

O trecho do Livro de Deuteronômio que estudaremos nesta manhã é simples. Em sua jornada para a fronteira a leste da Terra Prometida, depois de passar ao lado de Edom (a terra dos descendentes de Esaú), Israel se defrontou com a região de Moabe e cruzou o Zerede, um ribeiro na fronteira de Moabe e Edom. Israel chegou a este ponto de sua jornada 38 anos depois de sair de Cades-Barneia e exatamente nesta época morreu a última pessoa da geração que não quis entrar em Canaã, como lemos em 1.27-28,34-36.

O relato se refere a povos pouco conhecidos por nós: emins, altos como os anaquins e considerados refains, e os horeus.

A passagem pode ser dividida em três partes, iniciando com [1] uma nota sobre a fidelidade de Deus — Deus preserva Moabe (v. 9), seguida de [2] outra nota, sobre a transitoriedade dos povos — Deus remove povos e nações (v. 10-12) e concluída com [3] uma terceira nota, sobre o castigo divino — Deus castiga Israel (v. 13-15).

A narrativa inteira destaca a soberania de Deus sobre Israel e as nações e é possível sublinhar, como doutrina central, que o Deus fiel corrige.

Vejamos, em primeiro lugar, que…

I. Deus preserva Moabe

9 Então, o Senhor me disse: Não molestes Moabe e não contendas com eles em peleja, porque te não darei possessão da sua terra; pois dei Ar em possessão aos filhos de Ló.

Como temos dito desde o sermão anterior, Deus é soberano e fiel no trato com as nações. Assim como ele preservou Edom (a terra de Esaú), no v. 5, agora ele preserva Moabe. Esaú era neto de Abraão e Moabe era filho de Ló, sobrinho de Abraão (cf. Gn 19.36-38). Deus deu parte da terra a Esaú e a Moabe (v. 5,9). Portanto, Israel não devia guerrear contra os moabitas.

O que temos neste início de narrativa é isto: Deus reina sobre Israel e Moabe. Deus é fiel no seu trato para com ambos os povos. No exercício de sua soberania e fidelidade, Deus preserva Moabe.

Em segundo lugar, aprendamos com base no texto que…

II. Deus remove povos e nações

Nos v. 10-12, Moisés se refere aos emins, anaquins (considerados refains) e aos horeus.

10 (Os emins, dantes, habitavam nela, povo grande, numeroso e alto como os anaquins; 11 também eles foram considerados refains, como os anaquins; e os moabitas lhes chamavam emins. 12 Os horeus também habitavam, outrora, em Seir; porém os filhos de Esaú os desapossaram, e os destruíram de diante de si, e habitaram no lugar deles, [assim como Israel fez à terra da sua possessão, que o Senhor lhes tinha dado.)]

Os antigos consideravam os “refains” (rep̄ā·ʾîm) como gigantes assustadores e sombrios, quase divinos.[1] Os emins e os anaquins que habitavam a Transjordânia, eram considerados refains. Não custa lembrar que os espias incrédulos de Números 13.28, assustaram Israel informando que na Terra Prometida havia um “povo […] poderoso, […] cidades mui grandes e fortificadas” e “os filhos de Anaque” (anaquins).

Moisés está dizendo que a terra agora habitada pelos moabitas — terra que Deus deu a Moabe — foi antes dominada por estes seres gigantescos. Além disso, a região de Seir foi antes ocupada pelos horeus, povo antigo cuja origem é debatida,[2] mas agora está sob o domínio de Esaú. Os horeus foram “desapossados e destruídos” porque Deus deu a terra a Esaú.

Resumindo, gigantes, reis e nações não conseguem frustrar o propósito divino. O Senhor reina sobre eles. Deus remove povos e nações.

Finalmente, notemos, com reverência, que…

III. Deus castiga Israel

Depois de orientar Israel a não atacar Moabe, Deus ordena os israelitas a atravessar o ribeiro de Zerede: “Levantai-vos, agora, e passai o ribeiro de Zerede; assim, passamos o ribeiro de Zerede” (v. 13).

A geração jovem que ouvia esta palavra de Moisés se lembrava daquela travessia. O ribeiro de Zerede foi transposto dois anos antes de Moisés pregar este sermão. A travessia do Zerede tem importância histórica porque demarca a completação do juízo de Deus sobre os incrédulos da geração anterior (v. 14-15).

14 O tempo que caminhamos, desde Cades-Barneia até passarmos o ribeiro de Zerede, foram trinta e oito anos, até que toda aquela geração dos homens de guerra se consumiu do meio do arraial, como o Senhor lhes jurara. 15 Também foi contra eles a mão do Senhor, para os destruir do meio do arraial, até os haver consumido.

E aqui cabe um esclarecimento importante. No sermão anterior, eu afirmei que os israelitas incrédulos foram agraciados por quase 40 anos com a oportunidade de contemplar o evangelho revelado nos sermões de Moisés e no culto no Tabernáculo. Será que a aquela geração foi salva?

Em janeiro de 2021 eu preguei um sermão sobre Hebreus 3.7-19, intitulado O tempo da oportunidade. O grande argumento do autor de Hebreus naquela passagem é o seguinte: a oportunidade para crer é “hoje”; se não crermos em Deus hoje, corremos risco de sermos eternamente condenados, assim como a geração cujos cadáveres caíram no deserto.[3]

No livro de Michael Horton, A lei da perfeita liberdade, a geração que morreu no deserto é denominada “geração perdida”. Horton escreve um arrazoado primoroso sobre a entrada no descanso de Deus, analisando Salmos 95.7-11; 78.5-8; Hebreus 3.5-19; 4.1-6; 11.16. Em determinado ponto de sua ponderação, ele declara que:

O problema real da “geração perdida” israelita era uma questão de fé. A razão pela qual eles não entraram no descanso da Terra Prometida não foi porque não haviam sido suficientemente obedientes, nem porque não ofereceram sacrifícios o suficiente ou realizaram bastantes cerimônias. Eles foram barrados eternamente do descanso de Deus por causa da incredulidade. Eles recusaram-se a colocar seu descanso apenas em Deus. Eles recusaram-se a declarar que sua salvação estava inteiramente em suas mãos e recusaram-se a crer que existiam pela misericórdia de Deus e que Deus iria graciosamente prover. Eles tomaram as questões em suas próprias mãos e decidiram se salvar. Quando não puderam fazer isso, reclamaram de Deus.[4]

O resumo da conclusão do estudo de Horton é o seguinte:

Consequentemente, a geração perdida não foi apenas impedida de entrar no descanso terrestre, mas porque o povo não confiou na promessa de Deus, foi impedido de entrar no descanso celestial também.[5]

Parece que, ainda que durante quatro décadas o evangelho tenha sido pregado no culto do Tabernáculo, somente a nova geração se beneficiou dele.

Outro dado digno de observação é que não há detalhes sobre a rotina de Israel durante os 38 anos no deserto a partir do episódio de Cades-Barneia, mas o que a Bíblia registra enfatiza incredulidade e rebeldia por parte daquela geração perdida.[6]

É isso que temos aqui. Em Deuteronômio 2.13-15, Deus castiga Israel.

Podemos começar a concluir…

Conclusão

Recapitulando, em Deuteronômio 2.1-9, [1] Deus preserva Moabe, [2] remove povos e nações e [3] castiga Israel. O Deus fiel corrige.

O que isso tem a ver conosco?

[1] Deuteronômio nos convoca a uma conversão sincera ao Deus verdadeiro que é pessoal, soberano e fiel. Bom, compassivo e misericordioso. Santo, justo e gracioso. Criador, redentor e juiz. Deus fiel que sustenta e corrige.

Precisamos nos achegar a este Deus que se revela na Bíblia. Este é Deus. O Deus real, digno de nossa confiança, não uma divindade produzida por nossa imaginação. Deus cumpre seus tratos. Ele preservou Moabe e é poderoso e gracioso para nos livrar da destruição.

Ele promete salvar quem crê nele e esta promessa é atualizada em Romanos 10.8-14:

8 Porém que se diz? A palavra está perto de ti, na tua boca e no teu coração; isto é, a palavra da fé que pregamos. 9 Se, com a tua boca, confessares Jesus como Senhor e, em teu coração, creres que Deus o ressuscitou dentre os mortos, serás salvo. 10 Porque com o coração se crê para justiça e com a boca se confessa a respeito da salvação. 11 Porquanto a Escritura diz: Todo aquele que nele crê não será confundido. 12 Pois não há distinção entre judeu e grego, uma vez que o mesmo é o Senhor de todos, rico para com todos os que o invocam. 13 Porque: Todo aquele que invocar o nome do Senhor será salvo.

Vamos confiar nele hoje, nos entregar a ele hoje, invocar seu nome e sua salvação hoje!

[2] Deus nos anima a andar com ele hoje. Ele faz isso nos lembrando de que aquilo que ele nos dá não pode ser tirado por nada nem ninguém. Deus deu as montanhas de Seir aos filhos de Esaú. Por conta disso, os horeus não conseguiram detê-los. Deus deu a terra aos filhos de Moabe. Por conta disso, os emins, “povo grande, numeroso e alto”, não conseguiram deter Moabe.

Deus nos deu seu amor (seu próprio Filho). Seu Espírito como companhia, poder e penhor de sua herança. Sua salvação e suas promessas. Isso que Deus nos deu em Jesus Cristo, Satanás não consegue tirar. Lemos sobre isso em Romanos 8.35-39:

35 Quem nos separará do amor de Cristo? Será tribulação, ou angústia, ou perseguição, ou fome, ou nudez, ou perigo, ou espada? 36 Como está escrito: Por amor de ti, somos entregues à morte o dia todo, fomos considerados como ovelhas para o matadouro. 37 Em todas estas coisas, porém, somos mais que vencedores, por meio daquele que nos amou. 38 Porque eu estou bem certo de que nem a morte, nem a vida, nem os anjos, nem os principados, nem as coisas do presente, nem do porvir, nem os poderes, 39 nem a altura, nem a profundidade, nem qualquer outra criatura poderá separar-nos do amor de Deus, que está em Cristo Jesus, nosso Senhor.

Anime-se povo de Deus! Anime-se para andar com ele, para obedecer a ele, para amá-lo e servi-lo de todo coração! Ele, que remove povos e nações, é poderoso para remover os obstáculos em nós, ao nosso redor e diante de nós, hoje!

[3] Caminhemos com ele com a devida reverência e temor, pois o Deus fiel corrige. Busquemos arrependimento e acerto de nossos caminhos. Deixemos para trás as coisas erradas. Comecemos a fazer agora o que é certo. O Deus fiel corrige.

Não é sem razão que, pensando na aproximação da vinda do Senhor, diante de quem os elementos serão desfeitos, o apóstolo Pedro afirma que devemos ser “tais como os que vivem em santo procedimento e piedade” (2Pe 3.11). Vamos orar sobre isso.


Notas

[1] HEISER, M. S. “Refaim”. In: BARRY, John D. (Org.). Dicionário bíblico Lexham. Bellingham, WA: Lexham Press, 2020. Logos software.

[2] BÍBLIA DE ESTUDO DE GENEBRA. 3ª ed. [BEG3]. São Paulo: Barueri: Cultura Cristã; Sociedade Bíblica do Brasil, 2023, nota 2.10-12 emins… refains… horeus, p. 301.

[3] NASCIMENTO, Misael Batista do. O tempo da oportunidade. São José do Rio Preto, SP: Igreja Presbiteriana de São José do Rio Preto, 2021. Sermão disponível em: <https://ipbriopreto.org.br/sermao/o-tempo-da-oportunidade-hb-3-7-19/>. Acesso em 08 nov. 2025.

[4] HORTON, M. A lei da perfeita liberdade: a ética bíblica a partir dos Dez Mandamentos. São Paulo: Cultura Cristã, 2000, p. 101–102. Logos software.

[5] HORTON, op. cit., p. 102.

[6] Merrill denomina o período a partir de Cades de “era perdida da história de Israel” e complementa: “Não aparece uma só palavra em Deuteronômio sobre aqueles anos de silêncio, e tudo o que Números registra a título de narrativa é negativo: a rebelião de Corá (Nm 16.1-40), a queixa do povo (16.41—17.13), a morte de Miriã (20.1) e a rebelião em Meribá (20.2-13)”; cf. MERRILL, Eugene H. Deuteronômio. São Paulo: Vida Nova, 2025, p. 78 (Comentário exegético).