Dar este título a uma pastoral de boletim é correr o grande risco de muitos não começarem a ler nem o primeiro parágrafo. Mas o assunto é inevitável e imprescindível, principalmente no começo de um novo ano.
No início do ano é muito comum e necessário ouvirmos e lermos a respeito dos compromissos, das boas perspectivas, de bons lemas e resoluções. Contudo, pouco se ouve sobre uma das questões mais presentes na experiência humana diária: o sofrimento.
E isso não é nenhuma previsão pessimista do futuro ou algo do tipo, e sim uma constatação bíblica que prepara o crente para os desafios do embate entre suas duas cidadanias, a celestial e a terrena. Não trago nada novo, apenas uma lembrança.
O sofrimento é uma característica comum ao povo de Deus. Em níveis altos ou baixos, os crentes sempre sofrem. Desde a queda do homem (Gn 3), duas linhagens na humanidade foram estabelecidas: a da serpente (Satanás), rejeitada e cruel; e a linhagem da mulher (o povo escolhido, a Igreja), redimida e santa.
Durante a caminhada de ambas nesse mundo mal e tenebroso, o palco de todo o sofrimento, a linhagem escolhida sofre as pressões, opressões e tentações da rejeitada, que aproveita a natureza pecaminosa ainda presente na Igreja para fazer com que ela sofra e caia.
Jesus Cristo, o descendente e escolhido perfeito da mulher (Gn 3.15), disse à Igreja, sua noiva, que o sofrimento continuaria durante sua caminhada como discípulos. Aliás, carregar a cruz e a auto-negação foram e ainda são a condição básica para se tornar discípulo do Reino (Mt 16.24).
O Diabo continua sendo o adversário, andando ao derredor, como leão que ruge procurando alguém para devorar, exigindo de nós firmeza e resistência diante dos sofrimentos (1Pe 5.8,9). Nossa natureza pecaminosa continua lutando contra o Espírito presente em nós, causando-nos preocupações, tristezas e sofrimentos (Gl 5.17). E Jesus nos alertou que o mundo continua sendo o palco de todo esse sofrimento, quando nos disse que passaríamos por muitas aflições (Jo 16.33).
Contudo, esses sofrimentos contínuos causados pelo Diabo, pelo mundo e pela natureza caída, são enfrentados sob a certeza do que Jesus nos diz no final do último texto citado.
“Mas tende bom ânimo; eu venci o mundo.” A vitória de Cristo na cruz, na ressurreição e na exaltação à direita de Deus Pai, nos garante, auxiliados pelo Espírito Santo na santificação, a vitória sobre Diabo, o pecado e o mundo.
Essa palavra de Jesus não apenas nos consola, mas nos impulsiona à santidade prática, vencendo o Diabo e a carne. Essa certeza também nos faz vencer o mundo, não destruindo-o ou derrotando-o, mas santificando-o. É desta forma que vencemos e santificamos o mundo: subvertendo seus males e corrupções, e restabelecendo a vontade e os princípios do reino do Criador, inseridos em todas as esferas da sociedade. Isso é a vida do cristão, isso é santidade prática, que nos traz maturidade cristã e um modo de vida fiel.
Que em 2013, em meio a sofrimentos e tribulações, vençamos o Diabo, a carne e o mundo. E, em meio a essa luta diária, lembremos sempre de “que os sofrimentos do tempo presente não podem ser comparados com a glória a ser revelada em nós” (Rm 8.18). E que essa lembrança consoladora faça com que ansiemos por aquele dia em que “a morte já não existirá, já não haverá luto, nem pranto, nem dor, porque as primeiras coisas passaram” (Ap 21.4).
Rev. Renato. Publicado no Boletim 160, de 20/01/2013.