Dedicaremos este e os próximos boletins para refletir sobre o Sínodo realizado na cidade de Dort (Holanda), de 13 de novembro de 1618 a 9 de maio de 1619. O sínodo reuniu 102 pensadores e líderes e produziu um documento importante intitulado Cânones de Dort.1 Se em 2017 celebramos os 500 anos da Reforma, agora agradecemos ao Senhor pelos 400 anos do Sínodo de Dort. Ao organizar a doutrina bíblica da salvação, os Cânones fornecem ensino digno de atenção para o momento presente da campanha eleitoral em nosso país. O primeiro artigo explica o ensino sobre depravação total e afirma, com base em Romanos 3.19, 23; 6.23, que “toda a humanidade é condenável perante Deus”.
Um desdobramento disso é que, por causa da queda, mesmo as pessoas mais louváveis são pecadoras que podem ser corrompidas. A doutrina da depravação veda qualquer ilusão de justiça própria ou perfeição política. O único homem incorruptível que pisou nesta terra foi o Senhor Jesus. Os que abraçam esta doutrina sadia entendem que não é a política que corrompe as pessoas e sim o pecado em cada pessoa que corrompe a política. Mesmo o “melhor candidato” abriga desonestidade ou fragilidade.
A própria reunião de Dort nos ensina sobre política. Uma questão bíblica foi estudada por quase seis meses, por mais de uma centena de cristãos. Não foi o “maioral dos sabichões” que bateu o martelo, afirmando conhecer infalivelmente a verdade absoluta. Os pontos foram discutidos e votados. A ideia por detrás de um sistema conciliar é que nenhum ser humano se basta; porque somos inclinados ao engano, precisamos aprender tanto a falar, quanto a ouvir o outro. Na multidão de conselheiros há maior probabilidade de encontrar sabedoria (Pv 11.14).
Consideremos que a segunda geração de reformados optou por um sistema de governo da igreja representativo. Se todo ser humano é pecador, politicamente, estamos diante de duas opções: (1) conviver com uma pluralidade de pecadores, com estruturas e instrumentos adequados para que um deles seja eleito e monitorado pelos demais (governo de estado de direito e diálogo), ou (2) ser conduzidos por um único pecador com superpoderes, sob risco de tirania (governo de imposição). Para os irmãos de Dort, o primeiro ponto da doutrina da salvação esclarecia as coisas para o discipulado e para outras áreas da vida, inclusive a política.
Imagem- Líderes cristãos reunidos em Dort, Holanda, 1618-1619: Organização do ensino da Bíblia sobre a doutrina da salvação.
Pr. Misael.