As pessoas apegadas à mera religião acertam quando valorizam as virtudes, mas erram ao tentar ser justos e santos por meio de seus esforços. Elas não compreendem o evangelho da absoluta graça de Deus. Acham que salvação e santificação são alcançadas mediante a colaboração da graça de Deus com a vontade do homem. É como se houvesse uma sinergia, ou seja, uma colaboração entre as vontades humana e divina (sinergismo).
O evangelho bíblico ensina que Deus é o único Salvador (Sl 37.39; Is 43.11). O desfrute de sua salvação não é determinado por nossa vontade (Jo 1.13). O desenvolvimento de nossa salvação (a santificação) depende de ele nos dar tanto disposição quanto capacidade (Fp 2.12-13). Admite-se que a Bíblia diz que “o reino dos céus é tomado por esforço” e que Paulo subjugou seu corpo a fim de manter-se santo (Mt 11.12; 1Co 9.27). Nós agimos consciente e responsavelmente no processo de santificação (Rm 6.12-13; 12.1-2). No entanto, a origem desta disposição e força vem unicamente de Deus, ou seja, somente ele é agente da salvação e santificação (1Co 1.30-31). Esta doutrina de Deus como fonte e agente único (mono) de nossa redenção e aperfeiçoamento moral e espiritual, é denominada monergismo.
Estes pontos de vista partem de compreensões distintas da extensão da queda. Os religiosos entendem que o homem ainda possui capacidade para decidir-se por crer e realizar atos de justiça agradáveis a Deus. É a velha cantilena “eu me elevo” da falsa religiosidade natural.
A Bíblia, no entanto, afirma que o homem natural não consegue compreender as coisas espirituais e mesmo as suas melhores ações são tidas como repugnantes (1Co 2.14; cf. Is 64.6; Rm 3.9-18). Como afirmou Agostinho, nossas boas obras sem a regeneração “nada mais são do que pecados esplêndidos”. Isso é assim porque somente a justiça perfeita de Deus Filho satisfaz às demandas da justiça perfeita de Deus Pai.
É preciso abrir mão do erro do sinergismo e assumir o monergismo que assegura boas obras como resultado da operação da graça (Gl 3.1-5; cf. Ef 3.8-10). É errado pretender tanto justificar-se quanto santificar-se por nossas próprias obras. Justificação e santificação ocorrem como cumprimento das promessas divinas, somente “pela graça, mediante a fé”, por meio de Cristo e no poder do Espírito.
Rev. Misael. Publicado no Boletim 163, de 10/02/2013.