Caos é desordem e confusão. Politicamente falando, trata-se de ausência de governo. Em uma empresa, significa desorientação estratégica ou metodológica. Em um quarto de adolescente… bem… quem tem filhos nessa idade sabe do que eu estou falando.
O relato do Gênesis nos mostra que aquilo que chamamos de “criação” envolveu, na verdade, tanto a criação propriamente dita (o surgimento sobrenatural de coisas que não existiam — Hebreus 11.3) como a organização do que estava sendo criado (a separação das coisas em categorias — Gênesis 1.3 a 2.3). Deus se revela não apenas como criador mas também como organizador.
No universo, o caos é percebido pelo menos por três razões, quais sejam, a fragmentação causada pelo pecado, a ação demoníaca e o modo direto como Deus intervém nos processos históricos.
Tanto o pecado quanto o diabo produzem confusão. O ser humano tem facilidade para “arranjar encrenca” e continuamente se vê preso a um emaranhado de problemas para os quais não enxerga solução. O coração, cheio de tolice, conduz para o erro e Satanás aproveita-se dessa brecha para semear a desordem.
O pior do caos é a sensação de insegurança, a noção de que Deus está ausente ou, se presente, zangado conosco. O mundo fica escuro e encontramo-nos sozinhos. O chão é tirado de sob nossos pés, somos chacoalhados em um triturador existencial e sentimo-nos exauridos, amargos ou rançosos.
Como administrar o caos?
Primeiro fazendo separações. Assim como Deus separou as águas (acima e debaixo do firmamento) e os luzeiros (os diurnos dos noturnos — Gênesis 1.7, 14) é preciso que dividamos os problemas em partes. A partir de então devemos nomeá-los, identificando suas características e peculiaridades. Perceberemos que todos eles se encaixarão em uma de duas categorias: os que podemos e os que não podemos resolver.
Depois, é hora de começar a solucionar os problemas da primeira categoria. Isso ao menos possibilita uma nova sensação: a ordem começa a inserir-se no caos e isso traz uma certa medida de alívio. Mas nada de ânimo precipitado; a vida nessa terra não oferece alívio completo.
Terceiro passo: entregar os problemas irresolúveis a Deus. O que não se pode resolver, não se pode resolver. Parece óbvio mas é incrível o quanto alimentamos úlceras buscando soluções impossíveis. O Senhor, conhecendo nossa finitude, orienta a que lancemos sobre ele nossas ansiedades, certos de que “ele cuida de nós” (Mateus 6.25-34; Lucas 12.22-34; Filipenses 4.4-7).
Isso nos leva a uma conclusão: o caos é permitido por Deus para acentuar nossa dependência. Aprendemos que não somos senhores soberanos sobre os detalhes de nossas vidas; o absurdo nos visita e desestabiliza, o infortúnio invade nossos lares sem pedir licença e temos de enfrentar o inesperado. “Damos conta” de algumas dificuldades mas, para outras, temos de aprender a confiar em nosso Pai celestial e todo-poderoso, sapientíssimo, bondoso e gloriosamente justo (Salmo 40.1-5; Romanos 8.18, 28).
Podemos organizar certas coisas; outras necessitam da palavra criadora de Deus e, entendamos bem, há certas manifestações de caos que não serão dissipadas neste lado da existência e aguardarão a consumação da história (Apocalipse 21.3-4).
Rev. Misael. Publicado no Boletim 022.