Há um sentido em que a amizade é trabalhada. Vamos entender isso melhor. Em Gênesis 2.18, nós lemos: “Não é bom que o homem esteja só; far-lhe-ei uma auxiliadora que lhe seja idônea”. Apesar desta passagem ser muito citada em casamentos, ela informa sobre a natureza social da criatura humana. Deus nos criou para relações de amor vertical (temos de amar a Deus) e horizontal (temos de amar pessoas).
O trabalho em fazer amigos inicia quando nos dispomos a ser amistosos e a estabelecer novos vínculos. Isso não é fácil para os tímidos ou introvertidos, que se sentem bem sozinhos ou no convívio com um círculo pequeno e íntimo de relações, que preferem o silêncio ao barulho das aglomerações, ou que lutam com a dificuldade de abrir-se para novas ligações de amizade, por terem sofrido em relacionamentos anteriores. Nesse sentido, o ato de sair de nós mesmos, a fim de chegar até o outro, correndo o risco de sermos rejeitados, é por demais trabalhoso.
Acolher outra vida dá trabalho, porque o que é vivo quer ser atendido em suas demandas, resmunga, chora e às vezes se suja um bocado (estou reaprendendo isso com minha neta). Cuidar de uma coleção de canecas, mergulhar em um vide- ogame ou “maratonar” uma série é mais simples. O amigo compartilha a vida com coisas que fazem rir, chorar ou que são enfadonhas, ou seja, eles às vezes são chatos e cansam nossa alma. Nossa agenda é impactada, de modo que nos sentimos no dever de visitar um amigo ao passar por uma cidade, quando estamos de férias.
Os poetas acertaram: “amigo é coisa pra se guardar/ debaixo de sete chaves/ dentro do coração”. Paulo concluiu uma carta assim: “Saudai Amplíato, meu dileto amigo no Senhor” (Rm 16.8). Ele assumiu o trabalho de cultivar amizades.
Pr. Misael.