A expressão meia-sola referia-se originalmente ao remendo em um calçado, a substituição da “metade anterior da sola”, como nos informa o Dicionário Aurélio. Com o tempo passou a denotar algo mal feito ou incompleto.
Em uma passagem enigmática, o NT faz menção da conversão meia-sola:
[4] É impossível, pois, que aqueles que uma vez foram iluminados, e provaram o dom celestial, e se tornaram participantes do Espírito Santo, [5] e provaram a boa palavra de Deus e os poderes do mundo vindouro, [6] e caíram, sim, é impossível outra vez renová-los para arrependimento, visto que, de novo, estão crucificando para si mesmos o Filho de Deus e expondo-o à ignomínia. [7] Porque a terra que absorve a chuva que frequentemente cai sobre ela e produz erva útil para aqueles por quem é também cultivada recebe bênção da parte de Deus; [8] mas, se produz espinhos e abrolhos, é rejeitada e perto está da maldição; e o seu fim é ser queimada (Hebreus 6.4–8).
O texto descreve pessoas que não podem arrepender-se: “é impossível” (v. 6). Para elas Cristo deixou de ser salvação e tornou-se uma figura exposta à παραδειγματίζω, paradeigmatizō; “ignomínia” ou, literalmente, desgraça pública (v. 6).
Lemos sobre vivências espirituais autênticas. O autor de Hebreus ensina que alguém pode ser “iluminado” e γεύομαι, geuomai, “provar”, “sentir o sabor” e, portanto, gostar do sabor degustado, tanto do “dom celestial” quanto da “boa palavra de Deus” e dos “poderes do mundo vindouro” (v. 4-5). Ademais, ele pode tornar-se “participante” — μέτοχος, metochos, “parceiro” ou “companheiro” — do “Espírito Santo” (v. 4). E tudo isso sem verdadeira regeneração; conversão meia-sola.
Em outras palavras, experiências religiosas, ainda que verdadeiras e marcantes, não indicam que pertencemos a Deus. Gostamos da atmosfera da Nova Jerusalém? Isso não quer dizer que entraremos por suas portas. Apreciamos os cânticos da redenção? Isso não garante que sejamos redimidos.
Na verdade, a profundidade de nossas experiências com Deus pode nos tornar orgulhosos e endurecidos ao ponto de banalizarmos a relação com ele, fazendo mau uso da doutrina da graça para justificar nossa prática do pecado (v. 6).
Ridicularizamos o Redentor invocando seu sangue para lavar um pecado que sabemos que repetiremos. Alegamos que, assim, a graça se revela mais abundante. Tal erro remonta aos falsos cristãos do passado (cf. Romanos 6.1-2; Judas 4).
Você pode ser usado para curas e ainda assim ir para o inferno (cf. Mateus 7.21-23). O que confirma a conversão é o bom fruto (Hebreus 6.7-8; Mateus 7.15-20). Que fruto é esse? Leia sobre isso no próximo Boletim.
Rev. Misael. Publicado no Boletim 147, de 21/10/2012.