Imaginemos uma igreja em péssimo estado, sem condições de prosseguir por ausência de liderança qualificada, desarticulação dos poucos departamentos ativos e desânimo generalizado. Não se cultua devidamente, não há voluntários para os serviços e nem jovens, apenas um ou dois adolescentes e poucas crianças.
O povo se espalhou, a maioria das pessoas — membros restantes da referida igreja — desconhece a Bíblia e as finanças estão absolutamente arruinadas. O presbitério decide que é necessário designar alguém para cuidar daquele trabalho. Dois pastores estão disponíveis para a tarefa, ambos humildes, fiéis e consagrados ao Senhor. Um deles é um evangelista sociável e dinâmico e o outro, um ministro que ama passar longas horas estudando as Escrituras a fim de ensiná-las ao povo. Qual dos dois é mais adequado para as necessidades daquela igreja?
Deus enviou Esdras a Judá. Ainda que nos tempos atuais se dê mais atenção a Neemias como “líder corajoso ou empreendedor”, nunca podemos perder de vista a relevância da obra de Esdras. Ele era um autêntico descendente de “Arão, o sumo sacerdote” (Ed 7.1-5).
Lemos ainda que ele “subiu da Babilônia”, ou seja, cresceu longe de Judá e interagindo com outra cultura (Ed 7.5). O título “escriba versado na Lei de Moisés” (Ed 7.6) revela que ele era um homem dedicado aos estudos sagrados. O termo “versado” tem o sentido de “pronto”, “habilidoso” ou “veloz”, sugerindo que Esdras era capaz de pesquisar e fornecer respostas rápidas e precisas acerca da lei.
A tradição judaica propõe que ele leu e organizou todos os manuscritos do Antigo Testamento existentes em sua época, em seguida, publicou uma edição daquela coleção. Por isso os judeus o consideraram como um “segundo Moisés” (cf. At 7.22). Deus sustentou o chamado de Esdras e este último serviu ao Senhor com amor, humildade e gratidão (Ed 7.11-28).
Menciono Esdras neste domingo (encerramento do 5º Congresso Nacional de Educação Cristã da IPB) porque, por meio dele, o judaísmo completou a transição do líder carismático para o estudioso da lei. É claro que sempre há o risco do saber teológico se desconectar da realidade.
No entanto, não devemos fechar os olhos ao perigo de se privilegiar o orador-celebridade, que encanta multidões com discursos fáceis, deixando de valorizar o professor, que estuda calma e profundamente as Escrituras, a fim de ensiná-las com pertinência. Olhando para Esdras, aprendemos que Deus usa professores para expandir e consolidar seu reino.
Pr. Misael.