Se existe uma parte mais difícil de engolir no banquete dos Cânones de Dort, ou no seu resumo — o TULIP —, essa parte é a chamada expiação limitada. No acróstico reformado, é o terceiro ponto:
Total depravity | Depravação total
Unconditional election | Eleição incondicional
Limited atonement | Expiação limitada
Irresistible grace | Graça irresistível
Perseverance of saints | Perseverança dos santos
O ponto é difícil de aceitar, porque a mensagem comumente ensinada nas igrejas evangélicas é a de que Jesus morreu por todos. Mas os teólogos de Dort nos lembram que o plano de Deus é diferente:
Pois este foi o soberano conselho, a vontade graciosa e o propósito de Deus o Pai, que a eficácia vivificante e salvífica da preciosíssima morte de seu Filho fosse estendida a todos os eleitos. Daria somente a eles a justificação pela fé e por conseguinte os traria infalivelmente à salvação. Isto quer dizer que foi da vontade de Deus que Cristo por meio do sangue na cruz (pelo qual ele confirmou a nova aliança) redimisse efetivamente de todos os povos, tribos, línguas e nações, todos aqueles e somente aqueles que foram escolhidos desde a eternidade para serem salvos, e lhe foram dados pelo Pai.
Deus quis que Cristo lhes desse a fé, que ele mesmo lhes conquistou com sua morte, junto com outros dons salvíficos do Espírito Santo. Deus quis também que Cristo os purificasse de todos os pecados por meio do seu sangue, tanto do pecado original como dos pecados atuais, que foram cometidos antes e depois de receberem a fé. E que Cristo os guardasse fielmente até ao fim e finalmente os fizesse comparecer perante o próprio Pai em glória, “sem mácula, nem ruga” (Ef 5.27). [Cânones de Dort, 2.8].
A mensagem de que Jesus morreu por todos parece mais misericordiosa, mas traz um grave problema. Se a cruz cumpriu aquilo que a Bíblia diz que ela cumpriu — expiação (Hb 10.14), reconciliação (2Co 5.19), aquisição (Ap 5.9), substituição (1Pe 3.18) — então Deus teria falhado terrivelmente com aqueles que receberam o benefício da morte de Cristo e foram condenados ao inferno. O fato é que a obra de Jesus é perfeita. Por isso os beneficiados por sua morte experimentarão as consequências salvíficas do plano de Deus.
Isso é confortador: o que Jesus fez na cruz cumprirá plenamente o seu propósito. O sangue na cruz não foi derramado em vão. Se você crê em Cristo para a salvação, os benefícios da morte de Jesus são seus. A todos os que se angustiam com as lutas da vida, a morte de Jesus deveria ressoar como a profunda mensagem do compromisso do Pai: “Aquele que não poupou o seu próprio Filho, […] não nos dará graciosamente com ele todas as coisas?” (Rm 8.32). Do ponto de vista político (neste mês de eleição), os beneficiados pelo sangue derramado na cruz não precisam andar ansiosos pela vitória ou derrota de determinado candidato. A redenção de Jesus assegura que nenhuma pessoa ou poder podem nos separar do amor de Cristo (Rm 8.35-39).
Pr. Allen.