A salvação não decorre de nossas obras, mas da graça divina mediante a fé em Cristo como Senhor e Redentor. Olhamos para a pessoa do Filho de Deus, compreendemos que ele, com sua morte, satisfez a justiça do Altíssimo, pagando o preço exigido por nossos pecados. Sabemos que, por sua ressurreição, ele derrotou a morte. Verificamos nossas entranhas e procedimentos e confessamos: “Pequei, perdoa-me e salva-me” — e somos salvos, acolhidos por Deus nessa confiança em tudo o que ele providenciou graciosamente para nós.
Inicia-se uma nova fase, quando começamos a andar com ele, no discípulado. Aprendemos a crer nele para nossa provisão. Articulamos as primeiras preces e entregamos a ele as nossas causas. Suplicamos confiantes: é a fé em que Deus cumpre suas promessas e atende as orações. Nessa fase somos treinados pelo Espírito Santo na audácia filial e na perseverança. Descobrimos que a fé não é apenas doutrina, mas experiência de suprimento diário, confirmação, pelas bênçãos de Deus, da presença e aprovação desse Deus. Como filhinhos de colo, somos nutridos no peito e protegidos até estarmos prontos para os passos seguintes rumo ao amadurecimento.
Chega o tempo: Temos de crescer. Deus nos manda o pedagogo por excelência, o mestre Sofrimento. Fecha-se o tempo, seca-se o vigor. O céu, antes desimpedido, torna-se de bronze. A sensação tão gostosa do aconchego divino desaparece; Deus oculta-se. Às orações ele não mais diz frequentemente “sim”, mas, na maioria dos casos, “não” e “espere”. Tentamos voltar no tempo de alegria juvenil, angustiamo-nos, recorremos às vigílias e outros procedimentos penitentes: queremos dobrar Deus, precisamos ser atendidos. Assustamo-nos: até mesmo naqueles pontos que entendíamos, sem sombra de dúvida, que eram de acordo com sua vontade, não somos atendidos. Estamos sós — completamente. Não conseguimos alento nem mesmo entre os irmãos, que, aliás, passam a considerar-nos excêntricos, estranhos, e também se afastam. Nesse deserto clamamos aflitos, e nada. Nesse ponto somos convidados a crer quando não há absolutamente nenhuma evidência para a crença; a continuar crendo quando parece que o mal venceu, que as promessas falharam e a dor é mais forte do que o consolo. Ainda opera, lá no fundo, a fé para a salvação e, condoída, esgota-se a fé para a provisão. Deus, bondosa e misteriosamente, nos testa. O Soberano nos quer adultos, almeja forjar em nós a “completa varonilidade” (Efésios 4.13), segundo a imagem de seu Filho, que foi aperfeiçoado pelo sofrimento (Hebreus 2.10).
Isso vai continuar assim até o ponto em que pudermos dizer: “Logo, já não sou eu quem vive, mas Cristo vive em mim; e esse viver que, agora, tenho na carne, vivo pela fé no Filho de Deus, que me amou e a si mesmo se entregou por mim”, e ainda, “quanto ao mais, ninguém me moleste; porque eu trago no corpo as marcas de Jesus” (Gálatas 2.20, 6.17).
Fé presente na conversão, fé demonstrada na busca diária da provisão divina, fé inclusive quando a provisão não vem, quando a figueira não floresce, os campos não produzem mantimento e as ovelhas são roubadas do aprisco (Habacuque 3.17). Fé perseverante, robusta, testada, provada pelo fogo. É com esse tipo de confiança que o verdadeiro cristão caminha com Deus.
Publicado no Boletim 013.