O universo empresarial é orientado pela competitividade. Sobrevivem os que se adequam ao mercado. “Conquiste o cliente ou morra” — eis o lema que norteia o mundo dos negócios.
A igreja começa a reproduzir este paradigma. Basta trocar a palavra “cliente” por “membro” e “frequentadores” por “prospects” ou “membros em potencial”. No fim das contas, os pastores tornam-se executivos e as atividades religiosas, estratégias para aumentar e fidelizar pessoas.
Enviaram-me uma revista intitulada O Consumidor Cristão. Achei sintomático e me lembrei de um conhecido que não é crente, mas montou uma gravadora “evangélica”. Folheando a revista, verifiquei que sob o rótulo “gospel”, hoje se vende músicas, mensagens, palestras, cursos, filmes, livros, roupas, cosméticos, presentes, móveis e objetos de decoração, equipamentos eletrônicos, programas de computador e até pacotes de viagens. Nós deixamos de ser um segmento religioso e nos tornamos um “nicho de mercado”.
A palavra de Jesus, “tirai daqui estas coisas; não façais da casa de meu Pai casa de negócio” (Jo 2.16), tem caído em ouvidos moucos. Não há problema em manter-se honestamente com trabalho que beneficia o povo de Deus. O problema surge quando pastores, músicos e ministérios se tornam “marcas”; quando o escritor, palestrante, industrial, representante comercial ou prestador de serviço usam o nome de Deus apenas para lucrar com o “comércio da fé”, e santidade ou integridade passam a ser considerados meros conceitos vazios. Algo está muito errado quando em um programa “evangélico” se fala mais de dinheiro do que do evangelho. Isso não agrada ao nosso Pai Celestial, que procura adoradores verdadeiros (Jo 4.23).
Vivamos o evangelho com simplicidade e pureza de motivos. Exercitemos a fé com discernimento, prudência e temor. Não devemos ceder às pressões mercadológicas, venham de onde vierem. Está na hora de sermos “povo de Deus” e “sacerdócio real” e não meros consumidores cristãos.
Rev. Misael. Publicado no Boletim 179, de 02/06/2013.