Pensando nas manifestações populares das últimas semanas, temos de apoiar o Governo ou combatê-lo? Ir para as ruas ou ficar em casa?
No 1º século os judeus sofriam sob o domínio romano. Onze diferentes impostos eram cobrados pelo governo opressor e os latifundiários desapropriavam as terras dos pequenos lavradores, para depois arrendá-las aos mesmos, reduzindo-os a trabalhos forçados. A opressão, a sede de liberdade e justiça e a rebeldia dos zelotes formavam um círculo diabólico de ódio que explodia em lutas sangrentas, nas quais os romanos sempre levavam a melhor. Dentre os israelitas que não se envolviam em partidos, credos ou seitas, haviam os desanimados, que queriam apenas sobreviver em meio à angústia, os desertores, que se vendiam aos romanos em troca de favores e os poderosos, que obtinham lucro com a situação.
Entra em cena Jesus de Nazaré, identificado não como um revolucionário de armas ou chefe de quadrilha, mas como “o Cristo de Deus” (Lc 9.20). Ele anuncia a “paz” e convida seus seguidores a não revidarem o mal com o mal (Mt 5.9, 38-48; cf. Jo 14.27). Ele não é um “desanimado” ou “pacifista frouxo”. Pelo contrário, tem consciência de que sua obra implica em conflito e possível uso da espada (Mt 10.34; Lc 22.36). O que ele traz de diferente é uma convocação radical à maior das batalhas: a luta contra o orgulho egoísta, raiz de toda dificuldade pessoal, familiar e social (Mc 8.34).
O Redentor nos convoca a uma consagração completa a Deus e isso desemboca na missão (Mt 28.18-20). Após o Pentecoste, a igreja dedica-se a fazer discípulos no poder do Espírito Santo (At 1.8). Menos de quatro séculos depois, o Império se rende ao Cristianismo.
Mais do que de Direita ou de Esquerda, o cristão é “de Cima” (Cl 3.1). Sua cidadania celestial o orienta quanto a quem ou a que causas, regimes ou atos apoiar ou desconsiderar. Sem qualquer fanatismo ele não é omisso, mas, ao mesmo tempo, interpreta cada convite à ação respondendo à pergunta: “Isso contribui para o bom testemunho e realização da missão?”
Rev. Misael. Publicado no Boletim 182, de 23/06/2013.
2 Comentários
Acho q sera necessario um novo post explicando o que e missao. Pq se o conceito de missao adotado for o simples ganhar almas, a reacao do cristao sera uma. Porem, se o conceitocde missao for o estabelecimento e antecipacao do Reino, entao a postura sera outra
Olá Davi; na Bíblia há apenas uma ideia de missão: Cumprir Mateus 28.18-20. O que passa disso é sofisticação que confunde mais do que ajuda. Não há outra missão.
O que não podemos fazer é confundir missão com mandatos criacionais. A missão faz parte do mandato espiritual e produz desdobramentos nos mandatos social e cultural. O fato é que, mesmo buscando cumprir os mandatos social e cultural, temos de cuidar para dar testemunho da graça e paz disponíveis somente em Cristo. Ainda que, desfrutando deste graça e paz, tenhamos de lutar contra os inimigos do bem.
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