Matias sempre dormiu no escuro e isso nunca foi um problema. No entanto, retornando de viagem, confessou, com lágrimas nos olhos, que estava com medo.
Eu tentei entender melhor: fiz algumas perguntas, mas tanto a confusão interna quanto as limitações em sua forma de se expressar não permitiram que ele articulasse mais claramente qual era o objeto real do medo.
Existiam soluções fáceis, como deixar a luz acesa ou inventar algum placebo, mas aquela era uma boa oportunidade para pastorear o coração da criança. Então sentei com ele no colo, abri no Salmo 23, e comecei a ler, até chegar ao versículo 4: “Ainda que eu ande pelo vale da sombra da morte, não temerei mal nenhum, porque tu estás
comigo; o teu bordão e o teu cajado me consolam”.
Um vale, por estar entre duas montanhas, é naturalmente mais escuro. E o salmista fala do vale da sombra. Para piorar, ele toca o aspecto final dos nossos temores — a morte. Falei para o meu filho que existia um “detalhe” livrando o salmista do medo daquele lugar escuro: a companhia do nosso Deus. Pela graça do Senhor, Matias dormiu bem.
Todos nós temos medo do escuro. Talvez não o escuro direto, a falta de luz, mas certamente do escuro metafórico ou existencial. O desconhecido nos assombra, e a morte nos deixa paralisados. Como uma criança, podemos sentar no colo do Pai e ser lembrados que não precisamos temer, porque Ele está conosco. Podemos enfrentar o escuro porque Deus é luz, e nunca nos deixará sozinhos nas trevas.
Pr. Allen.