Ouve, ó Deus, a minha voz nas minhas perplexidades; preserva-me a vida do terror do inimigo (Salmos 64.1).
Perplexidades e terror são palavras raras no vocabulário cristão. A primeira é uma tradução do termo hebraico śîaḥ, “queixa” ou “meditação sobre problemas”. A segunda traduz pāḥad, “pavor”, “medo” ou “pânico”. Enquanto se queixa, Davi teme (algumas versões bíblicas destacam o caráter assustador do inimigo: “Protege a minha vida do inimigo ameaçador” (Nova Versão Internacional). A leitura da Almeida Revista e Atualizada, porém, aponta para o medo de Davi).
Queixa e pavor são dois lados de uma mesma moeda. A insegurança anda de mãos dadas com a perplexidade.
O que surpreende no texto é que isso – queixa e medo – são mostrados como experiências de um crente. Salmos 64 revela a fé no que esta tem de muito humano.
A maioria de nós lida com dissonâncias da alma. Isso é assim porque nem sempre nos percebemos pacificados por dentro. Mesmo quando sabemos a resposta certa, questionamos. Davi pede:
– Deus, ouça isto, é a minha perplexidade, estranha e talvez produto de minha falta de confiança, mas exposta com sinceridade. Senhor, não é muito bonita, mas não posso escondê-la. Eis o que tenho: queixa e pânico. Por favor Deus, ouça-me e preserva-me.
O crente é distinguido por esta disposição de derramar-se perante Deus contando com sua graça suficiente. Diante dele podemos depositar nossa perplexidade e medo.
Pastoral publicada no Boletim 98, de 13/11/2011. Rev. Misael.