Uma família de discípulos de Jesus
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A nova geração começa a vencer [Dt 2.24-25]

A nova geração começa a vencer: exposição de Deuteronômio 2.24-25

24 Levantai-vos, parti e passai o ribeiro de Arnom; eis aqui na tua mão tenho dado a Seom, amorreu, rei de Hesbom, e a sua terra; passa a possuí-la e contende com eles em peleja. 25 Hoje, começarei a meter o terror e o medo de ti aos povos que estão debaixo de todo o céu; os que ouvirem a tua fama tremerão diante de ti e se angustiarão. Deuteronômio 2.24-25.

Sermão do Pastor Misael Batista do Nascimento. Pregado na Igreja Presbiteriana de São José do Rio Preto, no culto da manhã, em 16/11/2025.

Introdução

Um título alternativo para esta mensagem seria A nova geração começa a andar com Deus. Porque é isto que, de fato, está acontecendo.

Moisés está pregando um sermão para a nova geração de israelitas. Ele conta a história de seus pais que morreram no deserto. Os pais deles não acreditaram em Deus. Por conta da falta de fé eles foram desobedientes e rebeldes. A consequência última foi que não conseguiram entrar na Terra Prometida.

Quando a Bíblia quer enfatizar a importância de uma coisa, ela usa o recurso da repetição. Moisés está fazendo isso aqui. Repetindo, repisando alguns fatos.

Você se lembra como este livro de Deuteronômio começa? Tudo inicia com as palavras ditas por Moisés a todo Israel, “dalém do Jordão” (Dt 1.1). Logo depois lemos que Moisés pregou “no primeiro dia do undécimo mês”, do “quadragésimo ano” (Dt 1.3). Daí Moisés menciona duas vitórias militares, no v. 4: “depois que [o Senhor] feriu a Seom, rei dos amorreus, que habitava em Hesbom, e a Ogue, rei de Basã, que habitava em Astarote, em Edrei”.

Pare agora e pense nisso.

Em Deuteronômio 2.24—3.22, Moisés se dedica a explicar a importância de determinados triunfos para a nova geração de israelitas — o triunfo sobre Seom, rei dos amorreus e o triunfo sobre Ogue, “rei de Basã”. De acordo com Benítez:

Por serem os primeiros enfrentamentos militares durante a conquista, as batalhas de Israel contra Ogue e Seom são os eventos bélicos mais lembrados no Antigo Testamento, a ponto de se converterem em parte de sua confissão de fé (Js 12.1—13.33; Ne 9.22).[1]

Essas vitórias informam que o propósito divino relativo a Canaã continua firme quanto à finalidade e modo de execução.

Do ponto de vista pastoral, repetir as histórias sobre as batalhas contra os reis da Transjordânia é necessário para a nova geração se animar para crer em Deus hoje.

Então, o que temos aqui não é complicado. Moisés está sublinhando fatos importantes. O primeiro deles é que [1] Deus constitui Israel para vencer Seom (v. 24). E o segundo, que [2] Deus amedronta os povos (v. 25).

vejamos, em primeiro lugar, que…

I. Deus constitui Israel para vencer Seom

Como lemos no v. 24:

Levantai-vos, parti e passai o ribeiro de Arnom; eis aqui na tua mão tenho dado a Seom, amorreu, rei de Hesbom, e a sua terra; passa a possuí-la e contende com eles em peleja.

Deus conclama Israel a se levantar e passar “o ribeiro de Arnom” e avançar em território amorreu. Aqui vale a pena retornar para a promessa de Deus a Abraão, em Gênesis 15.15-16.

15 E tu irás para os teus pais em paz; serás sepultado em ditosa velhice. 16 Na quarta geração, tornarão para aqui; porque não se encheu ainda a medida da iniquidade dos amorreus.

Uma nota da Bíblia de Genebra nos ajuda a entender que:

A conquista e a posse de Canaã por Israel tiveram como base a justiça absoluta de Deus e não a agressão sem fundamento. […] Os textos ugaríticos (c. 1400 a.C.) afirmam que os deuses cananeus se degradavam em violentas atrocidades e em promiscuidade sexual.[2]

Em outras palavras, no tempo de Deuteronômio “a medida da iniquidade dos amorreus” se encheu; eles serão desterrados.

Retornando a Gênesis 15 notemos ainda que, nos v. 18-21, ao prometer Canaã aos descendentes de Abraão, Deus menciona dez nações que constituíam, figuradamente, os povos amorreus:

18 Naquele mesmo dia, fez o Senhor aliança com Abrão, dizendo: À tua descendência dei esta terra, desde o rio do Egito até ao grande rio Eufrates: 19 o queneu, o quenezeu, o cadmoneu, 20 o heteu, o ferezeu, os refains, 21 o amorreu, o cananeu, o girgaseu e o jebuseu.

Outra passagem digna de menção é Deuteronômio 1.27, que registra a murmuração da geração dos israelitas incrédulos:

Murmurastes nas vossas tendas e dissestes: Tem o Senhor contra nós ódio; por isso, nos tirou da terra do Egito para nos entregar nas mãos dos amorreus e destruir-nos.

Agora, em Deuteronômio 2.24, Deus dá o reino e a terra dos amorreus à nova geração crente: “eis aqui na tua mão tenho dado a Seom, amorreu, rei de Hesbom, e a sua terra”.

Cabe à nova geração crer e obedecer: “passa a possuí-la e contende com eles em peleja”. Como sugere Merrill, os israelitas tinham de “enfrentar Seom […] em batalha e libertar a terra que ele havia ocupado de forma ilegítima”.[3]

É hora de lutar e conquistar. Deus constitui Israel para vencer Seom.

E o incentivo à batalha é reforçado em seguida, pois o texto diz ainda, em segundo lugar, que…

II. Deus amedronta os povos

Como consta no v. 25:

Hoje, começarei a meter o terror e o medo de ti aos povos que estão debaixo de todo o céu; os que ouvirem a tua fama tremerão diante de ti e se angustiarão.

O texto revela que Deus é Senhor sobre as emoções humanas. Como diz Merrill, Deus instilou nos amorreus “e em outras nações antiteocráticas o terror e o medo”.[4] Na Bíblia hebraica, o verbo traduzido como “se angustiarão” (ḥyl) tem o sentido de “torcer-se ou contorcer-se de dor, aqui com ansiedade”.[5] Craigie sugere ainda que:

Essas palavras [Dt 2.25] podem se referir ao êxodo do Egito, onde o evento foi celebrado como uma vitória que causaria terror ao coração dos chefes cananitas (Êx 15.14–16). O texto “Os oráculos de Balaão” indica que as notícias do êxodo tinham se tornado bem conhecidas (veja Nm 23.22; 24.8).[6]

Isso equivale a dizer que Deus prepara o terreno para estas batalhas de Israel. Antes dos exércitos se enfrentarem em campo, Deus já está agindo. É o que ele faz aqui, em Deuteronômio 2.25. Deus amedronta os povos.

E este é o ensino — muito simples — de Deuteronômio 2.24-25…

Conclusão

Deus constitui Israel para vencer Seom e Deus amedronta os povos. Em outras palavras, o tempo de disciplina para Israel acabou. “A passagem do ribeiro de Zerede marcou o final da ‘geração rebelde’; a passagem do Arnom marcou o início da posse da terra a leste do Jordão.”[7]

[1] Agora é hora de começar a crer, obedecer e vencer. É isso que significa “andar com Deus”. Como dissemos, a nova geração começa a andar com Deus. Em Deuteronômio 2, esta nova geração crê em Deus e obedece às ordens divinas. Por isso mesmo não ataca os edomitas, nem os moabitas, tampouco os amonitas.

Esse é o chamado de Deus para nós, de fé e obediência no discipulado de Jesus Cristo. Nós também somos chamados a crer e obedecer. A nos levantar e fazer algo prático para Deus. Também somos convocados a lutar contra o pecado e vencê-lo com fé na obra de Jesus e dependentes do Espírito Santo.

Mas não é assim que acontece sempre. Pelo contrário, nós temos de responder a este chamado, mas nem sempre respondemos. Deus fala conosco; Deus comanda. Será que nós cremos e obedecemos a contento?

Que esta seja uma ocasião de recolhimento, de súplica por fé e arrependimento. Que esta palavra de Deus, dada por meio de seu servo Moisés, alcance nossa alma e produza vida. Que Deus tenha misericórdia de Deus e nos ajude a responder a seu chamado: “Levantai-vos, parti e passai o ribeiro de Arnom; eis aqui na tua mão tenho dado a Seom, amorreu, rei de Hesbom, e a sua terra”. Chega de caminhar em círculos. Vamos nos levantar e fazer o que Deus diz. Vamos ficar de pé, entender a Deus e atender a Deus, no nome de Jesus!

[2] Deus com Israel nas batalhas faz toda diferença. Tremper Longman III explica que:

A lei de Deus (particularmente em Deuteronômio 7 e 20) instrui Israel a guerrear e, no cerne de sua mensagem, encontra-se a crença de que Deus é aquele que luta no meio de Israel. Assim, é justificável que os estudiosos modernos chamem esse fenômeno de “Guerra Santa”, uma vez que a presença de Deus santifica tanto o acampamento militar quanto o campo de batalha (Dt 23.14). […] Deus se revelou a Israel como um guerreiro (Js 5.13–15). Javé [o Senhor], o guerreiro divino, ocupa a posição central na Guerra Santa […].[8]

Ele infundiu medo nos inimigos. Preparou o caminho para as vitórias de Israel na Guerra Santa.

John Bunyan escreve um livro com este mesmo título, Guerra santa, referindo-se à “grande batalha entre o bem e o mal na cidade de Alma Humana”.[9] Se dependermos de nossa própria força ou engenho, esta batalha está perdida. Mas na dependência de Deus a situação muda, pois o Senhor instila terror nos inimigos de nossa alma e nos prepara e anima para vencer.

A nova geração de israelitas precisava se lembrar disso, que Deus os fez começar a vencer. Nós precisamos nos lembrar dos feitos redentores de Deus. Da bondade de Deus. Das promessas de Deus em Cristo. Que Deus nos ajude a lembrar de suas vitórias por nós e em nós. Que Deus tenha compaixão de nós e renove nossa esperança. Que ele seja gracioso conosco, e nos ajude a começar a vencer. Vamos orar sobre isso.


Notas

[1] BENÍTEZ, M. A. “Deuteronômio”. In: PADILLA, C. R. et al. (Org.). Comentário bíblico latino-americano. São Paulo: Mundo Cristão, 2022, p. 218. Logos software. Cf. Josué 12.1-6: “1 São estes os reis da terra, aos quais os filhos de Israel feriram, de cujas terras se apossaram dalém do Jordão para o nascente, desde o ribeiro de Arnom até ao monte Hermom e toda a planície do oriente: 2 Seom, rei dos amorreus, que habitava em Hesbom e dominava desde Aroer, que está à beira do vale de Arnom, e desde o meio do vale e a metade de Gileade até ao ribeiro de Jaboque, limite dos filhos de Amom; 3 desde a campina até ao mar de Quinerete, para o oriente, e até ao mar da Campina, o mar Salgado, para o oriente, pelo caminho de Bete-Jesimote; e desde o sul abaixo de Asdote-Pisga. 4 Como também o limite de Ogue, rei de Basã, que havia ficado dos refains e que habitava em Astarote e em Edrei; 5 e dominava no monte Hermom, e em Salca, e em toda a Basã, até ao limite dos gesuritas e dos maacatitas, e metade de Gileade, limite de Seom, rei de Hesbom. 6 Moisés, servo do Senhor, e os filhos de Israel feriram a estes; e Moisés, servo do Senhor, deu esta terra em possessão aos rubenitas, aos gaditas e à meia tribo de Manassés”. E ainda, Neemias 9.21-22: “21 Desse modo os sustentaste quarenta anos no deserto, e nada lhes faltou; as suas vestes não envelheceram, e os seus pés não se incharam. 22 Também lhes deste reinos e povos, que lhes repartiste em porções; assim, possuíram a terra de Seom, a saber, a terra do rei de Hesbom e a terra de Ogue, rei de Basã”.

[2] BÍBLIA DE ESTUDO DE GENEBRA. 3ª ed. [BEG3]. São Paulo: Barueri: Cultura Cristã; Sociedade Bíblica do Brasil, 2023, p. 44.

[3] MERRILL, Eugene H. Deuteronômio. São Paulo: Vida Nova, 2025, p. 92 (Comentário exegético)

[4] MERRILL, op. cit., loc. cit.

[5] KEIL, C. F.; DELITZSCH, F. Commentary on the Old Testament. Peabody, MA: Hendrickson, 1996, v. 1, p. 864.

[6] CRAIGIE, P. C. Deuteronômio. São Paulo: Cultura Cristã, 2013, p. 112 (Comentários do Antigo Testamento). Cf. Êxodo 15.14-16: “14 Os povos o ouviram, eles estremeceram; agonias apoderaram-se dos habitantes da Filístia. 15 Ora, os príncipes de Edom se perturbam, dos poderosos de Moabe se apodera temor, esmorecem todos os habitantes de Canaã. 16 Sobre eles cai espanto e pavor; pela grandeza do teu braço, emudecem como pedra; até que passe o teu povo, ó Senhor, até que passe o povo que adquiriste”. Também Números 23.22-23: “22 Deus os tirou do Egito; as forças deles são como as do boi selvagem. 23 Pois contra Jacó não vale encantamento, nem adivinhação contra Israel; agora, se poderá dizer de Jacó e de Israel: Que coisas tem feito Deus!”. Por fim, Números 24.8: “Deus tirou do Egito a Israel, cujas forças são como as do boi selvagem; consumirá as nações, seus inimigos, e quebrará seus ossos, e, com as suas setas, os atravessará”.

[7] CRAIGIE, P. C. Deuteronômio. São Paulo: Cultura Cristã, 2013, p. 112 (Comentários do Antigo Testamento).

[8] LONGMAN, T., III. “Guerreiro divino”. In: VANGEMEREN, W. A. (Org.). Novo dicionário internacional de teologia e exegese do Antigo Testamento. São Paulo: Cultura Cristã, 2011. Logos software. Cf. Deuteronômio 23.14: “Porquanto o Senhor, teu Deus, anda no meio do teu acampamento para te livrar e para entregar-te os teus inimigos; portanto, o teu acampamento será santo, para que ele não veja em ti coisa indecente e se aparte de ti”. E ainda, Josué 5.13-15: “13 Estando Josué ao pé de Jericó, levantou os olhos e olhou; eis que se achava em pé diante dele um homem que trazia na mão uma espada nua; chegou-se Josué a ele e disse-lhe: És tu dos nossos ou dos nossos adversários? 14 Respondeu ele: Não; sou príncipe do exército do Senhor e acabo de chegar. Então, Josué se prostrou com o rosto em terra, e o adorou, e disse-lhe: Que diz meu senhor ao seu servo? 15 Respondeu o príncipe do exército do Senhor a Josué: Descalça as sandálias dos pés, porque o lugar em que estás é santo. E fez Josué assim”.

[9] BUNYAN, John. A guerra santa. São Paulo: Ágape, 2017.


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