Uma família de discípulos de Jesus
Capa sermões em Deuteronômio 1024x1024

Entrem e conquistem [Dt 1.6-8]

6 O Senhor, nosso Deus, nos falou em Horebe, dizendo: Tempo bastante haveis estado neste monte. 7 Voltai-vos e parti; ide à região montanhosa dos amorreus, e a todos os seus vizinhos, na Arabá, e à região montanhosa, e à baixada, e ao Neguebe, e à costa marítima, terra dos cananeus, e ao Líbano, até ao grande rio Eufrates.
8 Eis aqui a terra que eu pus diante de vós; entrai e possuí a terra que o Senhor, com juramento, deu a vossos pais, Abraão, Isaque e Jacó, a eles e à sua descendência depois deles. Deuteronômio 1.6-8.

Sermão do Pastor Misael Batista do Nascimento. Pregado na Igreja Presbiteriana de São José do Rio Preto, no culto da noite de 14/09/2025.

Introdução

No sermão anterior iniciamos nossa jornada neste livro diferente, chamado Deuteronômio. Fomos levados ao fim da era do deserto (ano 1407/1406 a.C.) e nos encontramos com o povo acampado em Moabe, prestes a entrar em Canaã — a Terra Prometida, sendo chamado a ouvir a palavra de Deus por meio de Moisés, mediador da aliança, lembrando-se do que aconteceu com seus antepassados, que não deram crédito às promessas de Deus.

Daí a cena foi fechada com Moisés se preparando para explicar as instruções de Deus (Dt 1.5). Fez-se silêncio e a tela escureceu.

Agora imagine uma nova cena sendo formada. Cerca de 600 mil pessoas paradas em torno do Monte Horebe, também conhecido como Sinai. E sobre a imagem a escrita, em letras garrafais: 40 ANOS ANTES… Esta é a mudança que ocorre entre Deuteronômio 1.5 e 1.6. O tempo volta 40 anos.

O primeiro sermão de Moisés começa assim, com retrospectiva. Daqui até 4.40, ele destaca alguns fatos que marcaram a história de Israel.[1]

Especificamente em 1.6-8, [1] Deus fala com Israel em Horebe (v. 6). Na ocasião, [2] Deus ordena Israel a avançar na Terra Prometida (v. 7). Em seguida, [3] Deus encarrega Israel de entrar na terra e possuí-la (v. 8).

Este é o típico texto da Bíblia que coloca o pregador diante da tentação de utilizar retórica de autoajuda e formular frases de impacto, do tipo “você, que está há muito tempo parado, acomodado, tem de sair de sua zona de conforto, romper em fé e tomar posse do que é seu!” e isso apela fortemente a nós porque não é totalmente mentira, mas mesmo, assim, ainda não expressa a verdade de Deuteronômio 1.6-8.

Vamos entender isso melhor, primeiramente destacando que, nesta passagem…

I. Deus fala com Israel em Horebe

Confira comigo o v. 6:

O Senhor, nosso Deus, nos falou em Horebe, dizendo: Tempo bastante haveis estado neste monte.

Moisés está pregando à nova geração, convidando-a a crer em Deus hoje, lembrando-a de que seus pais foram igualmente desafiados. Deus, que fala hoje na “terra de Moabe” (v. 5) falou ontem, aos pés do Monte Horebe.

Deus não é um ídolo feito por mãos humanas. Deus é o “Senhor”, YHWH, o criador que firmou um pacto com um povo. Por isso ele é chamado de “nosso Deus”. Deus todo-poderoso e transcendente, mas também pessoal e imanente, que se revela, que se dá a conhecer por meio de sua Palavra. Primeiro Deus conduziu o povo ao monte Horebe, como depreendemos de sua fala a Moisés, em Êxodo 3.12:

Deus lhe respondeu: Eu serei contigo; e este será o sinal de que eu te enviei: depois de haveres tirado o povo do Egito, servireis a Deus neste monte.

Sendo assim, não é estranho Moisés conduzir o povo até Horebe, logo depois de sair do Egito.

Depois um tempo, porém, chega a hora de seguir em frente. Por isso Deus diz: “Tempo bastante haveis estado neste monte” (v. 6b).

Vamos entender melhor a jornada do Êxodo, com cada novo sermão calibrando, expandindo e aprofundando um pouco o que vimos no anterior. Pois a menção dos onze dias, no v. 2, conforme expliquei no sermão anterior, acaba gerando em nós a impressão de que, onze dias depois de sair do Egito, o povo já estava diante de Cades-Barneia, mas é preciso entender que o foco do v. 2 é contrastar a jornada curta, de onze dias, de Horebe até Cades-Barneia, com os 40 anos de duração da jornada de Israel, por conta da incredulidade.

Agora, olhando para Deuteronômio 1.6, somos informados de que, antes do povo partir para Cades-Barneia, passou um tempo. Leia depois, com calma, todo o capítulo 33 de Números e faça uma lista das diferentes paradas de Israel, do Egito até as campinas de Moabe. O fato é que, por conta de algumas paradas, em Êxodo 19.1 descobrimos que Israel demorou três meses somente para chegar do Egito até o deserto do Sinai (Horebe). E o povo permaneceu em torno do Sinai até o “ano segundo, no segundo mês, aos vinte do mês”, como consta em Números 10.11, ou seja, eles permaneceram no monte Sinai por cerca de um ano.[2]

Depois daquele ano, conforme Números 10.11b-12a: “11b […] a nuvem se ergueu de sobre o tabernáculo da congregação. 12a Os filhos de Israel puseram-se em marcha do deserto do Sinai, jornada após jornada […]”. Isso é assim porque o Deus da Bíblia é autodeterminante. Possui vontade. É vivo. Salva. Liberta e guia. Fala. Comanda. E assim, nos tira do lugar, soberana e poderosamente.

É assim que as coisas acontecem em Deuteronômio 1.6: Deus fala com Israel em Horebe.

Além disso, em segundo lugar, vejamos que…

II. Deus ordena Israel a avançar na Terra Prometida

É o que se vê no v. 7:

Voltai-vos e parti; ide à região montanhosa dos amorreus, e a todos os seus vizinhos, na Arabá, e à região montanhosa, e à baixada, e ao Neguebe, e à costa marítima, terra dos cananeus, e ao Líbano, até ao grande rio Eufrates.

Como explica Craigie:

Os termos empregados indicam as principais divisas geográficas da terra. Ela incluía a terra montanhosa dos amorreus (a saber, as regiões montanhosas centrais de Judá e o Monte Efraim), Arabá (cf. 1.1), e Sefelá, uma área de montanhas baixas situada entre os montes da Judeia e a costa do mar (a saber, a planície Oeste da Palestina, beirando o Mar Mediterrâneo). O Neguebe é a terra de seca no Sul da Palestina, estendendo-se do Norte de Berseba às montanhas da Judeia. Todas essas áreas podem ser consideradas sob o termo geral de terra dos cananeus. Ao Norte da terra dos cananeus está o Líbano e, mais a Nordeste, estão as terras altas que fazem limite com o rio Eufrates.[3]

Mas nós temos de perguntar: Por que isso é assim? Por que Deus ordenou este avanço? Deus não está dizendo aqui que cada um de nós pode avançar na realização de qualquer projeto pessoal, certo de que obterá sucesso. O texto de Deuteronômio vai além das meninices de autoajuda.

A Bíblia de Genebra esclarece que “esses limites da Terra Prometida correspondem, aproximadamente, àqueles declarados a Abraão”.[4] E daí, menciona Gênesis 15.18-21:

18 Naquele mesmo dia, fez o Senhor aliança com Abrão, dizendo: À tua descendência dei esta terra, desde o rio do Egito até ao grande rio Eufrates: 19 o queneu, o quenezeu, o cadmoneu, 20 o heteu, o ferezeu, os refains, 21 o amorreu, o cananeu, o girgaseu e o jebuseu.

Trocando em miúdos, Deuteronômio 1.7 não fala de autoajuda e sim, de uma aliança. Deus ordena Israel a avançar na Terra Prometida, a fim de cumprir uma promessa antiga.

E é com base nessa promessa que, em terceiro lugar…

III. Deus encarrega Israel de entrar na terra e possuí-la

Como lemos no v. 8:

Eis aqui a terra que eu pus diante de vós; entrai e possuí a terra que o Senhor, com juramento, deu a vossos pais, Abraão, Isaque e Jacó, a eles e à sua descendência depois deles.

A esta geração, hoje, a Palavra de Deus reafirma as promessas feitas ontem, aos patriarcas. Não custa repetir. Deus firmou uma “aliança perpétua”, como lemos em Gênesis 17.7:

Estabelecerei a minha aliança entre mim e ti e a tua descendência no decurso das suas gerações, aliança perpétua, para ser o teu Deus e da tua descendência.

Ela foi estabelecida com “Abraão” e atualizada em “Isaque e Jacó”. E abrange a descendência deles, “depois deles”. E esta aliança alcança cada crente em Jesus Cristo, hoje, tal como lemos em Gálatas 3.7: “Sabei, pois, que os da fé é que são filhos de Abraão”. E ainda Gálatas 3.29: “E, se sois de Cristo, também sois descendentes de Abraão e herdeiros segundo a promessa.”

A aliança promete e assegura [1] salvação; [2] um povo e [3] uma terra (cf. Gn 12.1-3; 15.5-8; 17.4,8). Oren Martin sublinha cinco informações bíblicas sobre a terra, que [1] a terra é uma dádiva que pertence a Deus; [2] a terra é descrita como um novo paraíso; [3] Israel deve cumprir o mandato da criação, multiplicando-se na terra; [4] a promessa da terra abrange vida e prolongação dos dias; [5] herança e descanso são aspectos da promessa da terra.[5] Se Deus permitir, nos próximos sermões teremos oportunidade de discorrer sobre cada um destes pontos destacados pelo irmão Martin.

E aqui mesmo, em Deuteronômio 1.8, Deus menciona, “a terra que eu pus diante de vós”, quer dizer, a Terra Prometida pertence a Deus e ele a dá como presente a Israel.

Mas há um último detalhe a considerar, qual seja, a conquista da terra exige ação humana, obediente e dependente, nos termos da aliança. Daí o imperativo de Deuteronômio 1.8b:

[…] entrai e possuí a terra que o Senhor, com juramento, deu a vossos pais, Abraão, Isaque e Jacó, a eles e à sua descendência depois deles.

É preciso entrar. É preciso tomar posse. Isso não tem nada a ver com triunfalismo pentecostal. É a doutrina da aliança tomando forma, fazendo visível e palpável, se tornando prática.

Explicando a promessa da terra, um servo de Deus sugere que alguns tentam:

Inserir uma cunha entre os aspectos condicionais e os incondicionais da promessa da terra. Mas a presença de incondicionalidade e a condicionalidade existem concomitantemente em vários relacionamentos […].[6]

Nos termos da fé salvadora, estas duas verdades se complementam: Deus concede a terra como dádiva; Israel precisa entrar e possuir a Terra.

Eu caminho para o final, reconhecendo que este sermão pode ter levantado algumas perguntas ainda sem resposta. Por isso mesmo, eu me coloco à sua disposição para conversar sobre a dúvida que surgir decorrente desta mensagem. E creio que, conforme caminharmos olhando com calma para Deuteronômio (pois há muita coisa a dizer sobre a promessa da terra), Deus nos esclarecerá e abençoará.

Nós ficamos por aqui afirmando que, em Deuteronômio 1.8, Deus encarrega Israel de entrar na terra e possuí-la. E aqui começamos a concluir…

Conclusão

Temos de nos lembrar. Em Deuteronômio 1.6-8, [1] Deus fala com Israel em Horebe; [2] ordena Israel a avançar na Terra Prometida e [3] Deus encarrega Israel de entrar na terra e possuí-la.

[1] O Deus bíblico que firma alianças nos ama, nos conhece e nos guia. Ao longo da história, Deus age para nos alcançar com sua palavra e poder. Ele enviou a Palavra a seu povo em Horebe; 40 anos depois, Deus enviou sua Palavra a seu povo nas campinas de Moabe; 1400 anos depois, Deus enviou Jesus como Palavra encarnada a seu povo de Israel e também a nós. E agora mesmo Deus está aqui interessado, falando.

Deus tem algo a nos dizer. E nós temos algo a responder a ele. Nós o consideramos? Nós o admitimos? Nós o amamos? Nós o seguimos? Cremos nele de verdade? Andamos com ele neste mundo de verdade? Hoje é o melhor dia para começar a reconhecê-lo. A prestar contas da vida a ele. A tê-lo como Deus presente que salva, limpa, liberta e guia. Hoje é ocasião para começar a nos deixar guiar por ele. Começar a acatá-lo; a seguir suas ordens; amar suas instruções, como diz o autor de Salmos 119.97: “Quanto amo a tua lei! É a minha meditação, todo o dia!”

[2] É preciso crer na promessa e agir baseado nesta crença. A graça de Deus não torna desnecessária a ação humana, antes, a potencializa. Deus nos capacita por seu Espírito, como agentes de sua aliança.

Uma promessa precisa ser cumprida. O cumprimento desta promessa depende, é claro e antes de tudo, da ação soberana e poderosa de Deus. Mas também da ação humana, que responde à soberania e graça de Deus com confiança e obediência.

Isso é fé salvadora: Deus é “de verdade”. Deus diz quem eu sou. Como eu devo entender este mundo, e a mim mesmo, e minhas relações com o que existe. Deus diz o que eu devo fazer (e o que eu não devo fazer). E Deus usa minha vida (com todas as minhas limitações, fragilidades e esquisitices) para estabelecer, consolidar, aprofundar e expandir o reino dele neste mundo.

Vamos orar sobre isso.


Notas

[1] MERRILL, Eugene H. Deuteronômio. São Paulo: Vida Nova, 2025, p. 49 (Comentário exegético), sugere que “essa seção de Deuteronômio [1.6—4.40] pode ser designada de ‘O Prólogo Histórico’.”

[2] MERRILL, op. cit., p. 53.

[3] CRAIGIE, P. C. Deuteronômio. São Paulo: Cultura Cristã, 2013, p. 95 (Comentários do Antigo Testamento).

[4] BÍBLIA DE ESTUDO DE GENEBRA. 3ª ed. [BEG3]. São Paulo: Barueri: Cultura Cristã; Sociedade Bíblica do Brasil, 2023, p. 298.

[5] MARTIN, Oren R. Rumo a Canaã. São Paulo: Cultura Cristã, 2018, P. 77-83.

[6] MARTIN, op. cit., p. 79.


Recursos adicionais

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Podcast gerado com IA Notebook LM (14 minutos, para reforço de aprendizado)