41 Então, respondestes e me dissestes: Pecamos contra o Senhor; nós subiremos e pelejaremos, segundo tudo o que nos ordenou o Senhor, nosso Deus. Vós vos armastes, cada um dos seus instrumentos de guerra, e vos mostrastes temerários em subindo à região montanhosa. 42 Disse-me o Senhor: Dize-lhes: Não subais, nem pelejeis, pois não estou no meio de vós, para que não sejais derrotados diante dos vossos inimigos. 43 Assim vos falei, e não escutastes; antes, fostes rebeldes às ordens do Senhor e, presunçosos, subistes às montanhas. 44 Os amorreus que habitavam naquela região montanhosa vos saíram ao encontro; e vos perseguiram como fazem as abelhas e vos derrotaram desde Seir até Horma. 45 Tornastes-vos, pois, e chorastes perante o Senhor, porém o Senhor não vos ouviu, não inclinou os ouvidos a vós outros. 46 Assim, permanecestes muitos dias em Cades. Deuteronômio 1.41-46.
Sermão do Pastor Misael Batista do Nascimento. Pregado na Igreja Presbiteriana de São José do Rio Preto, no culto da noite, em 26/10/2025.
Introdução
Há momentos em que Deus diz “avance”, e há momentos em que ele diz “fique onde está” ou “volte”. O problema é quando queremos avançar depois que ele nos mandou parar. Israel experimentou as consequências disso de maneira amarga, em Cades-Barneia. Os israelitas desobedeceram quando Deus mandou entrar; depois quiseram obedecer quando Deus já havia dito “não mais”. O resultado foi derrota, choro e desagrado de Deus. Este texto é uma advertência santa. Se insistirmos em teimar com Deus, pode acontecer dele não seguir conosco.[1]
O texto sagrado revela que, por conta de suas teimosias em Cades-Barneia, Israel demonstrou [1] ao invés de arrependimento, precipitação (v. 41) e [2] ao invés de atenção e submissão a Deus, rebeldia e presunção (v. 42-43). Daí Israel experimentou, consequentemente, [3] ao invés de vitória derrota vergonhosa, choro e disciplina (v. 44-46). Vamos tentar entender isso melhor.
Em primeiro lugar, Israel obstinado demonstrou…
I. Ao invés de arrependimento, precipitação
É o que lemos no v. 41:
Então, respondestes e me dissestes: Pecamos contra o Senhor; nós subiremos e pelejaremos, segundo tudo o que nos ordenou o Senhor, nosso Deus. Vós vos armastes, cada um dos seus instrumentos de guerra, e vos mostrastes temerários em subindo à região montanhosa.
O início do versículo parece registrar arrependimento: “41a Então, respondestes e me dissestes: Pecamos contra o Senhor”. O termo usado na Bíblia hebraica (ḥṭʾ) carrega o sentido de “errar (o alvo)”; “ofender”; “pecar”. Palavras aparentemente corretas, sugerindo confissão sincera. O problema surge no que segue, onde consta: “41b […] nós subiremos e pelejaremos, segundo tudo o que nos ordenou o Senhor, nosso Deus”. De acordo com John Currid, “a resposta de Israel aqui também é rebelde”.[2] E prossegue:
Quando lhes foi ordenado “voltar e marchar” e “subir” à terra (v. 7,21), eles se recusaram a “subir” (v. 26). Agora que lhes é ordenado “voltar e marchar” para longe da terra, eles respondem: “Subiremos” à terra.[3]
Aqui inicia a confusão, pois Israel interpreta errado as palavras de Deus. Assume que pode escolher quando e como obedecer à palavra de Deus. Que pode adaptar as instruções divinas conforme sua própria conveniência. Esta é uma resposta tardia à palavra de Deus proferida por Moisés nos v. 29-31, na ocasião, recebida com incredulidade, v. 32. No momento certo, Israel não acreditou na promessa divina!
E Moisés prossegue dizendo: “Vós vos armastes, cada um dos seus instrumentos de guerra”. Esta preparação atrasada para a guerra evidencia mais incredulidade. Desta vez, Israel não acredita no juramento de Deus registrado no v. 35. Israel duvida da firmeza de caráter e da palavra do Senhor. Imagina um Deus maleável, que mudaria sua sentença, quem sabe comovido pelo voluntarismo afoito dos israelitas preparando-se para a guerra. Israel não acredita no julgamento divino!
Tudo isso informa que o fraseado religioso e devocional do início deste versículo é apenas retórico; o povo diante de Moisés não está, de fato, arrependido e está teologicamente confuso. Daí, como lemos no final deste versículo: “e vos mostrastes temerários em subindo à região montanhosa“, sendo que aqui a Bíblia hebraica traz um termo (hwn), que quer dizer “considerar fácil”; “arriscar-se” de modo “precipitado” ou “atrevido”. Daí a ESV: “E cada um de vocês pegou suas armas de guerra e pensou que seria fácil subir à região montanhosa”. Como explica Craigie:
Primeiro, eles não conseguiam realmente confiar no Senhor que havia lutado por eles e os protegido. Depois, quando se ergueram em frouxa confiança no Senhor, esqueceram-se da seriedade de sua tarefa.[4]
Estas palavras finais do v. 41 desenham a infantilidade e infidelidade do coração rebelde: [1] Lentidão em compreender, absorver e praticar a palavra de Deus. [2] Rapidez ou prontidão em fazer o contrário do que Deus manda. É isso que Israel demonstra neste v. 41: Ao invés de arrependimento, precipitação.
Em segundo lugar, em Cades-Barneia, Israel birrento demonstrou…
II. Ao invés de atenção e submissão a Deus, rebeldia e presunção
Nós podemos conferir isso nos v. 42-43:
42 Disse-me o Senhor: Dize-lhes: Não subais, nem pelejeis, pois não estou no meio de vós, para que não sejais derrotados diante dos vossos inimigos. 43 Assim vos falei, e não escutastes; antes, fostes rebeldes às ordens do Senhor e, presunçosos, subistes às montanhas.
Se você der uma olhadinha na passagem de Números paralela a essa (Nm 14.39-45), verá que Israel subiu para essa batalha inclusive sem levar a “arca da Aliança do Senhor” (também Moisés permaneceu no arraial; Nm 14.44). Naquela aliança, levar a arca era extremamente importante, pois a conquista de Canaã é “Guerra Santa”.
Quando analisamos as guerras sob Moisés e Josué, às vezes levantamos “aquela pergunta” que parece inteligente, mas na verdade apenas arranha a superfície: “Por que um ‘Deus de amor’ ordena essas guerras no Antigo Testamento?” Nós entenderemos isso ao longo dessas exposições de Deuteronômio, se Deus permitir, mas uma coisa já podemos entender, que não se trata de qualquer guerra e sim de “Guerra Santa” (esta é a primeira percepção que deve constar em nosso coração relativa a este assunto).
A guerra era santa de tal maneira, que cada vez que Israel seguia pra pelejar a arca da Aliança tinha que ser levada. Porque a arca representava a presença de Deus no meio do povo, que Deus pelejaria em favor do seu povo. Como foi dito, se você der uma olhada em Números 14.44, perceberá que Israel subiu com tanta segurança em si mesmo, que sequer levou a arca da Aliança. Não é sem razão que Deus diz: “fostes rebeldes […] e presunçosos” quando “subistes as montanhas” (v. 43).
Olhando para o v. 42, percebamos que bênção, que privilégio! Deus continuou falando ao povo através de Moisés! “Disse-me o Senhor: Dize-lhes” (v. 42a). Moisés é usado por Deus como mediador do pacto. Deus envia sua palavra por meio de seu agente da aliança. Esta fala divina implica que Deus se importa com eles. Informa sobre a paciência, cuidado e amor de Deus para com eles (cf. v. 31-32).
Sabe aquele questionamento do v. 27, quando Israel diz que Deus não o ama, seguido da fala de Moisés, nos v. 31-32, assegurando Israel do amor de Deus? Nós podemos juntar aquilo com isto que lemos no v. 42 e concluir que, em Deuteronômio, nós estamos diante de um Deus de amor. Essa ideia de que o Deus do Antigo Testamento é um “Deus furioso que só quer destruir” e que a gente só encontra a revelação de um Deus de amor no Novo Testamento não é correta; não retrata a verdade da Palavra de Deus. Nós temos tanto no Antigo quanto no Novo Testamento o mesmo Deus que deseja nos encontrar, nos resgatar e nos abençoar por meio da bênção do seu amor e favor imerecidos.
Isso é reforçado pelo que segue, pois Deus diz: “Não subais, nem pelejeis, pois não estou no meio de vós, para que não sejais derrotados diante dos vossos inimigos.”
Talvez você já tenha passado por aquela situação em que tem de admitir que fez besteira imaginando que determinada iniciativa, prática ou negócio era vontade de Deus. Depois você fracassou, refletiu e concluiu que interpretou tudo errado. Não era bem aquilo que Deus queria. O leitor de Deuteronômio pode até pensar que Israel viveu um momento como esse, de insegurança. Israel se empolgou de boa fé, de fato arrependido e querendo caminhar com Deus. Apenas interpretou mal a vontade divina para aquele contexto, assim como ocorre conosco às vezes.
Deus, porém, foi tão maravilhoso que falou “Moisés, eu vou mandar um novo recado; quero deixar claro para o povo qual é a minha vontade. Diga ao povo para parar tudo agora mesmo”. Não sobrou margem de dúvidas sobre a vontade de Deus para aquele momento. Deus chega para Moisés e diz: “Moisés, diga ao povo para não subir, nem pelejar; eu não irei com ele”. Será que podia ser mais claro?
Por quê? Por que não subir? Esta negativa divina — este “não” de Deus — deflui de seu cuidado. Deus queria preservá-los da derrota e vergonha diante de seus inimigos. Deus não é um estraga-prazeres. O que ele está dizendo é: “Se vocês forem vai ‘dar ruim’”; é isso. “Não façam isso; estou avisando vocês; se vocês forem agora, nada dará certo”. Deus nos ama tanto que às vezes nos dirá “não”, assim como a gente diz para nossos filhos. Nós sabemos o problema que pode dar; estamos preservando e cuidando. Deus queria resguardá-los de derrota e vergonha diante dos inimigos. Eles mal chegaram aos limites da Terra Prometida e já começariam senso derrotados. Deus disse “não façam isso, não é hora para isso.”
Mas que tristeza, que lástima! Mais uma vez o povo de Deus não quis escutar! “Assim vos falei, e não escutastes” (v. 43a). A passagem nos apresenta um verbo fundamental em Deuteronômio (šmʿ); “ouvir”; “prestar atenção”. É assim que começa a oração diária ensinada por Deus em Deuteronômio 6.4: “Ouve, Israel”; “ouve, Israel”; “ouve, Israel”. Deus vai repetindo isso em todo o Livro de Deuteronômio: “Ouve, meu povo; ouve; ouçam!” Aquele que não ouve a Deus perde e sofre.
Israel precisa prestar atenção na Palavra de Deus. Israel está afoito. “Vamos subir e lutar; entendemos que é assim que devemos proceder; façamos conforme tudo que Deus mandou!” Mas não tá ouvindo nada. Está todo atrapalhado. Voluntarismo puro e simples não salva. Mero voluntarismo ou disposição para fazer tudo sem antes parar para ouvir, pode conduzir a desastre. Há momentos em que a gente precisa se aquietar e aprender a escutar. Tem momento para você lutar, mas tem momento que você tem de escutar. É isso. Em Deuteronômio, a vida com Deus neste mundo inicia, se aprofunda, se expande e produz bom resultado a partir do escutar, do ouvir a Deus.
Além disso temos “antes, fostes rebeldes às ordens do Senhor” (v. 43b). E aqui o hebraico traz um verbo (mrh) que quer dizer “resistir desobedecendo”; “não ceder”; “replicar”; “insurgir-se”; “revoltar-se”. Sabe aquela pessoa a quem você fala: “Por favor, faça isso”, mas a pessoa replica: “Não, eu antes quero apresentar meus argumentos”? Assim é Israel com Deus no deserto. Deus diz: “Israel, faça; Israel, eu estou mandando fazer”. Mas Israel em Cades é replicante, insurgente, revoltoso. Lamentavelmente, o coração deles se inclina a rejeitar a ordem de Deus; a lutar contra Deus.
Se isso não bastasse, lemos ainda: “e, presunçosos, subistes às montanhas” (v. 43c), sendo que “presunçosos” traduz um verbo (zyd) que descreve um “comportamento insolente”. Eles subiram pensando “a gente pode e acontece; estamos armados; vamos lá, conquistar. Venceremos do nosso jeito, mesmo que Deus não esteja conosco. Nós nos bastamos. Conseguiremos. Somos bons e capazes”.
Perceberam que esquisito? Lá atrás eles tremeram de medo e Moisés teve de animá-los (v. 28-29). Quando a incredulidade entra em nosso coração, cava espaço e produz essas duas coisas que parecem contraditórias, mas que tem a ver com uma coisa só, às vezes medo, às vezes insolência (petulância idiota). Às vezes a gente se sente “lá embaixo”, tomado de pavor. Outras vezes a gente diz: “Agora eu vou fazer e acontecer sem Deus, sem a presença de Deus. Apesar de Deus dizer que eu não devo prosseguir, quem disse que eu preciso do Senhor? Eu tenho a mim mesmo! Além disso, as outras coisas em que confio” (os “carros” e os “cavalos” do Egito, como dizia Isaías). Daí a gente vai.
Resumindo, Em Deuteronômio 1.43-44, Israel demonstra ao invés de atenção e submissão a Deus, rebeldia e presunção.
Finalmente, em terceiro e último lugar, Israel revoltoso é forçado a lidar com consequências…
III. Ao invés de vitória derrota vergonhosa, choro e disciplina
44 Os amorreus que habitavam naquela região montanhosa vos saíram ao encontro; e vos perseguiram como fazem as abelhas e vos derrotaram desde Seir até Horma. 45 Tornastes-vos, pois, e chorastes perante o Senhor, porém o Senhor não vos ouviu, não inclinou os ouvidos a vós outros. 46 Assim, permanecestes muitos dias em Cades.
A derrota vergonhosa é descrita no v. 44. Israel é derrotado como um grupo desavisado atacado por abelhas, batendo os braços erraticamente e fugindo de forma apavorada e confusa: “Os amorreus que habitavam naquela região montanhosa vos saíram ao encontro; e vos perseguiram como fazem as abelhas […]” (v. 44a). Para piorar, lemos: “e vos derrotaram desde Seir até Horma” (v. 44b), o que corresponde a uma corrida desenfreada de mais de 80 km,[5] a fim de salvar a própria pele.
O choro aparece adiante: “Tornastes-vos, pois, e chorastes perante o Senhor“ (v. 45a). Mais uma vez, parece arrependimento, mas não é. Como explica Merrill, este choro decorre de mera frustração,[6] e ainda, “o choro chegou tarde demais e faltou arrependimento genuíno.”[7]
Isso fica claro pelas palavras registradas logo mais: “porém o Senhor não vos ouviu, não inclinou os ouvidos a vós outros” (v. 45b). É enorme o contraste entre este versículo e Salmos 40.1, que revela Deus se inclinando para ouvir a oração de Davi. O modo como esta frase consta no hebraico quer dizer, literalmente, “ele [Deus] de forma alguma prestaria atenção ao choro de vocês.”[8]
Isso nos conduz ao versículo final: “Assim, permanecestes muitos dias em Cades” (v. 46). De fato, muito triste. Uma realização trágica do clamor do v. 28: “para onde subiremos?”. A resposta é: Para lugar nenhum. Vocês não quiseram subir e conquistar no tempo certo. A oportunidade passou.
Esta geração de israelitas terá de circundar a região de Cades-Barneia durante 38 anos, até que morra o último incrédulo.[9]
Não dá para responder com “aleluia”. O relato nos convida a suplicar: “misericórdia”! Por conta de sua teimosia, Israel experimentou, ao invés de vitória derrota vergonhosa, choro e disciplina.
A partir daqui, podemos começar a concluir…
Conclusão
Recapitulando, por conta de suas teimosias em Cades-Barneia, Israel demonstrou, [1] ao invés de arrependimento verdadeiro, precipitação; [2] ao invés de atenção e submissão a Deus, rebeldia e presunção. Daí, consequentemente, [3] ao invés de vitória derrota vergonhosa, choro e disciplina.
O que Moisés está fazendo aqui? Ele prega um sermão para a nova geração de Israel.
Moisés teve quase quatro décadas para refletir sobre a importância do êxodo do seu povo do Egito e o estabelecimento, feito por YHWH, de um relacionamento da aliança com Israel no Sinal. Como o Evangelho de João, o livro de Deuteronômio funciona como um manifesto teológico, convocando Israel para responder à graça de Deus com lealdade e amor sem reservas.[10]
Isso é algo digno de anotar. Se você quiser saber qual é o propósito do Livro de Deuteronômio saiba que é nos convocar a responder à graça de Deus com lealdade e amor sem reservas. Então, se você achava que o Livro de Deuteronômio é só um livro de leis e regulamentos que tem a ver somente com Israel naquela época antiga, compreenda que nós estamos diante do grande chamado do Antigo Testamento a responder à graça de Deus com lealdade e amor sem reservas.
O que nós temos aqui — em Deuteronômio — é um Deus gracioso, fazendo intervenções dentro da história, interagindo com um povo específico e dizendo “eu amo vocês, correspondam com amor”. Lá atrás (no sermão sobre Dt 1.26-33) eu sugeri que Deus olha para nós e diz: “Eu amo você”. Agora aprendemos que Deuteronômio propõe uma contrapartida. Deus convoca aqueles a quem ama, para que o amem e o sirvam sem reservas.
Isso reaparecerá em Deuteronômio 6.4-5:
4 Ouve, Israel, o Senhor, nosso Deus, é o único Senhor. 5 Amarás, pois, o Senhor, teu Deus, de todo o teu coração, de toda a tua alma e de toda a tua força.
Ame a Deus completamente, inteiramente, sem reservas. Temos de ser lembrados disso porque nos aproximamos de Deus com reservas. Não é que a gente diga: “Eu não creio em Deus”. Não é isso, mas a gente se aproxima de Deus com reservas. Talvez tenhamos passado por alguma experiência ruim na nossa infância (ou em outro momento da vida), que nos treinou internamente a funcionar desse modo. “Não posso confiar em ninguém sem reservas”. Depois a gente somou com isso o texto de Jeremias 17.5: “Assim diz o Senhor: Maldito o homem que confia no homem, faz da carne mortal o seu braço e aparta o seu coração do Senhor!” Daí concluímos: “Eu não posso confiar em ninguém realmente sem reservas.”
O ponto é que, em Deus — e somente nele — nós podemos e devemos confiar sem reservas. A ele nós devemos nos devotar sem reservas. A palavra de Deus exige amor, lealdade e amor a Deus sem reservas.
Repetindo a pergunta, o que Moisés está fazendo? Pregando para a nova geração, Moisés enfatiza coisas importantes, antes dela entrar na Terra Prometida. “Amem ao Senhor, creiam no Senhor, sirvam ao Senhor, sejam leais ao Senhor sem reservas! Agora são vocês que estão diante dos limites da terra; agora são vocês que precisam conquistar essa terra; vocês viram o que aconteceu com os pais de vocês, as consequências que ele escolheram porque não entenderam isso. Vocês precisam se lembrar dessas coisas antes de entrar na Terra Prometida.”
Além desta aplicação geral, podemos pensar em outras aplicações, específicas.
[1] Nosso arrependimento deve ser sincero e constante. Na proximidade da celebração dos 508 anos da Reforma Protestante, é bom lembrar da primeira das 95 teses de Martinho Lutero: “Ao dizer: ‘Arrependei-vos’, etc. [Mt 4.17], o nosso Senhor e Mestre Jesus Cristo quis que toda a vida dos fiéis fosse arrependimento”.[11] Que nosso arrependimento diante de Deus seja sincero e constante.
Que Deus faça em nós o que fez com Davi, em Salmos 40.6-8. Precisamos de graça divina que ilumina:
6 Sacrifícios e ofertas não quiseste; abriste os meus ouvidos; holocaustos e ofertas pelo pecado não requeres. 7 Então, eu disse: eis aqui estou, no rolo do livro está escrito a meu respeito; 8 agrada-me fazer a tua vontade, ó Deus meu; dentro do meu coração, está a tua lei (Sl 40.6-8).
Depois que Deus abriu os ouvidos de Davi, ele notou que a Bíblia falava acerca dele e a lei foi gravada dentro de sua alma. Que Deus nos ajude hoje, abrindo nossos ouvidos! E que o resultado desta iluminação seja arrependimento!
[2] A entrega de nosso coração a Deus e o empenho para obedecê-lo devem ser renovados todos os dias. Que aprendamos a ouvir o “não” de Deus, pois, como foi dito, as negativas divinas — as vezes em que ele nos diz não — defluem de seu cuidado.
A graça produz fé obediente. Peçamos graça a Deus, que nos mova a servi-lo sempre.
[3] As duas coisas mais importantes de nossa vida são a presença e a bênção de Deus! Moisés orou por isso, em Êxodo 33.15-16:
15 Então, lhe disse Moisés: Se a tua presença não vai comigo, não nos faças subir deste lugar. 16 Pois como se há de saber que achamos graça aos teus olhos, eu e o teu povo? Não é, porventura, em andares conosco, de maneira que somos separados, eu e o teu povo, de todos os povos da terra?
No sermão da manhã fomos alertados. Somos inclinados a desejar as bênçãos de Deus. Deuteronômio nos convida a desejar o Deus das bênçãos.
Triste demais! A imagem do v. 45 nos faz pensar em um cachorro que terminou de levar uma grande surra de outro e chega em casa com o rabo entre as pernas e de cabeça baixa mancando, sangrando, chorando baixo e lambendo as feridas. A gente pode pensar que ser infantil, teimoso e afoito não é um problema, mas é. Deus estabeleceu Israel para vencer, mas Israel quis vencer a despeito da ausência da Deus.
Nós também às vezes insistimos em vencer do nosso jeito. Que nosso coração seja mudado. Hoje mesmo! Vamos orar sobre isso.
Notas
[1] Parágrafo escrito com ajuda do ChatGPT.
[2] CURRID, J. D. A study commentary on Deuteronomy. Darlington, England; Webster, New York: Evangelical Press, 2006, p. 55.
[3] CURRID, op. cit., loc. cit.
[4] CRAIGIE, P. C. Deuteronômio. São Paulo: Cultura Cristã, 2013, p. 104 (Comentários do Antigo Testamento).
[5] MERRILL, Eugene H. Deuteronômio. São Paulo: Vida Nova, 2025, p. 76 (Comentário exegético).
[6] MERRILL, op. cit., p. 78.
[7] Ibid., loc. cit.
[8] Ibidem.
[9] Ibidem.
[10] BLOCK, Daniel I. O evangelho segundo Moisés. São Paulo: Cultura Cristã, 2017, p. 25.
[11] LUTERO, Martinho. 95 teses. Disponível em: <https://bndigital.bn.gov.br/exposicoes/lutero-500-anos-da-reforma/as-95-teses/>. Acesso em: 26 out. 2025.