O profeta Daniel inicia seu relato com as seguintes palavras (em Dn 1.3): “Disse o rei a Aspenaz, chefe dos seus eunucos, que trouxesse alguns dos filhos de Israel […]”. Os jovens citados no texto pertencem a um povo vencido (Israel). Eles são “trazidos”, ou seja, forçados a vir de Israel para a Babilônia.
Há um embuste no discurso do evangelicalismo moderno, a afirmação de que, se você for realmente “de Deus”, nunca será derrotado; uma ênfase em “fazer Deus — ou “sua fé” — funcionar. Publicam-se relatos de Deus fazendo a nossa vontade e realizando nossos sonhos. É dito que nossa decisão move os céus e cria realidades elevadas na Terra. Somos mais do que pessoas comuns, praticamente semideuses ou titãs indestrutíveis.
De fato podemos dizer que, se estamos em Cristo, somos sempre vencedores. Paulo escreve sobre isso, em Romanos 8.35-39:
Quem nos separará do amor de Cristo? Será tribulação, ou angústia, ou perseguição, ou fome, ou nudez, ou perigo, ou espada? Como está escrito: Por amor de ti, somos entregues à morte o dia todo, fomos considerados como ovelhas para o matadouro. Em todas estas coisas, porém, somos mais que vencedores, por meio daquele que nos amou.
Esta “supervitória”, informada por Paulo, manifesta-se sob circunstâncias adversas; “somos mais que vencedores” mesmo quando entregues “à morte o dia todo”, tidos “como ovelhas para o matadouro” (Rm 8.36). O cristão é “supervencedor” ainda que, aos olhos dos homens, pareça ser um perdedor.
Sob esta ótica, enxergamos estes jovens mencionados em Daniel 1.3-4. Humilhados pela derrota militar de Judá, arrastados de seu lugar próprio para outro que lhes era indesejável e estranho. No entanto, ali colocados pela poderosa mão de Deus. Para os
poderes humanos eles eram inimigos vencidos. Pelo ângulo da Providência, eles eram “mais que vencedores”.
Pr. Misael