A história da Reforma é a história dos temerosos. Eu explico iniciando com Martinho Lutero. A primeira grande virada na vida de Lutero se deu por causa de um ato de grande medo. Ele estudava Direito na universidade de Erfurt, Alemanha. O sonho de seu pai era que, obtendo sua formação, voltasse a Mansfeld e se tornasse prefeito. Mas algo aconteceu no caminho. Literalmente “no caminho”.
Após uma visita à família, Lutero retornava para Erfurt, quando uma terrível tempestade teve início. Um raio caiu próximo do jovem que, em pânico, pediu livramento e fez uma promessa para Santa Ana: “eu me tornarei um monge”.
Lutero sobreviveu à tempestade e cumpriu o voto. Em 1505, entrou para a Ordem dos Agostinianos em Erfurt. Essa guinada foi fundamental para as outras transformações que viriam e desencadeariam a Reforma.
O outro medroso foi João Calvino. Enquanto o pai de Lutero queria o filho no Direito, o pai de Calvino queria o filho envolvido com a Igreja. Inicialmente, o relacionamento era bom, e Calvino recebia benefícios que custeavam sua educação. Mas, após conflitos entre o pai de Calvino e o clero de Noyon, França, o seu caminho foi redirecionado para o Direito.
Nicolas Cop, amigo de Calvino, foi eleito reitor da Universidade de Sorbonne em 1533 e, em seu discurso inaugural, apresentou várias ideias da Reforma, citando um sermão de Lutero. Calvino foi considerado coautor do discurso, e precisou fugir da perseguição. Entre algumas idas e vindas à França, Calvino precisou fugir novamente, e dessa vez seguiria para Estrasburgo, onde pretendia viver uma vida tranquila, pesquisando e escrevendo; acadêmico que era.
A guerra que se aproximava fez Calvino mudar o percurso, passando pela cidade de Genebra. Chegou ali em Julho de 1536, pretendendo apenas pernoitar. Aquela cidade havia abraçado os ideais da Reforma recentemente, conduzida pelo reformador Guilherme Farel. Alguém reconheceu Calvino e informou a Farel que ele estava na cidade. Farel foi visitar Calvino, pedindo-lhe que ficasse na cidade e o ajudasse no trabalho de reforma. Calvino manifestou seu primeiro movimento de timidez, afirmando que não era pregador e não tinha temperamento adequado para lidar com as pessoas. Após insistências e recusas, Farel esbravejou e disse que Deus amaldiçoaria os estudos de Calvino se ele recusasse o serviço ao povo de Deus. Calvino “amarelou” novamente, e decidiu ficar em Genebra.
O temor que encaminhou Lutero e Calvino foi santo e os fortaleceu para os vários atos que viriam posteriormente. Hoje temos uma grande história da Reforma e seus frutos, e a garantia de que Deus nos usa em nossa fraqueza de ânimo, para nos encaminhar em passos de coragem. Soli Deo Gloria (glória somente a Deus).
Pr. Allen.