Hoje senti falta dos meus cabelos. Isso não é um surto depressivo, mas a constatação do que é a existência em si mesma. Lembrei-me de outras coisas que já passaram pela minha vida: o barulho da chave do carro do papai chegando em casa no fim da tarde; o cheiro do pão caseiro da mamãe saindo do forno à tardinha; meu primeiro emprego no calçadão da cidade; pessoas queridas que já partiram, enfim, a verdade é que tudo passou por mim, e assim como meus cabelos, eu também passarei.
Nesse momento, o Espírito Santo me conduziu para o Salmo 73 e suas duas estradas. Saí desse plano terreno (o que não significa negar o que vivi) e fui levado para um plano onde pouco importa se terei cabelo ou não. Fui consolado por Deus naquela hora! Compreendi melhor o júbilo de Davi ao bendizer a Deus pelo provimento abundante das ofertas feitas pelo povo para a construção do templo (1 Cr 29.10-22). Naquela oração, Davi destacou: “Porque quem sou eu, e quem é o meu povo para que pudéssemos dar voluntariamente estas coisas? Porque tudo vem de ti, e das tuas mãos to damos. Porque somos estranhos diante de ti e peregrinos como todos os nossos pais; como a sombra são os nossos dias sobre a terra, e não temos permanência” (v.14-15; grifos nossos).
Nada havia vindo do povo, mas das mãos de Deus. Minha vida foi tecida desde os primórdios pelas mãos de Deus. E como não temos permanência neste mundo, tudo que nos cerca também não tem. Mas não sobra nada? — você pergunta. Depende nas mãos de quem você confia a sua vida. Se você confia em você, então, como bem concluiu o sábio em Eclesiastes, “tudo é vaidade e correr atrás do vento” (você perdeu tempo). Mas, se você confia em Jesus Cristo, então você será herdeiro de tudo, como bem concluiu Paulo em 1 Coríntios 3.21-23: “Portanto, ninguém se glorie nos homens; porque tudo é vosso: seja Paulo, seja Apolo, seja Cefas, seja o mundo, seja a vida, seja a morte, sejam as coisas presentes, sejam as futuras, tudo é vosso, e vós, de Cristo, e Cristo, de Deus” (grifos nossos).
O meu maior consolo é saber que “corpo e alma, na vida e na morte, não pertenço a mim mesmo, mas ao meu fiel Salvador, Jesus Cristo” (Catecismo de Heidelberg, pergunta 1).
Rogério Cruz.