Enquanto eu escrevo este texto, um timer indica que faltam 43 minutos para a próxima refeição. O diagnóstico de obesidade e a incômoda presença de um cisto de quatro centímetros de gordura no fígado me forçaram a uma dieta restritiva. Nada de proteína no almoço (somente duas colheres de arroz integral ou massa). No jantar, dois pedaços pequenos de peixe, além, logicamente, de porções generosas de salada crua e menores de legumes cozidos e grãos. A isso acrescente-se, no desjejum, dois pedaços de fruta com baixa acidez, duas fatias pequenas de pão integral e café. Às dez da manhã e no meio da tarde, dois lanches leves e, na ceia, um iogurte pequeno. Para completar, meia hora diária de exercício aeróbico.
É a primeira vez em minha vida que eu tenho de me submeter a uma dieta tão radical. Várias vezes eu disse aos amigos que eu não entendia porque eu estava engordando. Talvez fosse por causa da mudança de meu metabolismo, decorrente da idade. Minha constituição física não evidencia rapidamente o aumento de peso e eu não me sirvo de grandes quantidades de alimento nas refeições principais. A dieta, porém, especialmente no 3º dia, revelou que eu passava a maior parte do tempo mastigando alguma coisa. De fato eu me dei conta da existência de uma compulsão.
Lá estavam eles, diminutos acessos de pânico e ansiedade, educadamente administrados, mas muito reais, indo e vindo em ondas. Meu organismo estava em desequilíbrio, lidando com a abstinência parcial de alimentos. Eu me lembrei de que, anos atrás, eu jejuava duas vezes por semana. Agora eu tinha dificuldades de diminuir a quantidade de comida no prato e me alimentar seis vezes por dia! Percebi ainda que eu estava irritado e senti vergonha de minha infantilidade.
Eu olho para o timer e faltam 22 minutos.
Os estudiosos do comportamento trabalham duro para compreender o que se encontra por detrás dos hábitos e eu creio que os cristãos podem beneficiar-se desses esforços. O grande desafio, porém, é mudar o coração definitivamente e de modo a destacar somente a glória de Deus. Isso tem relação com a luta espiritual; alterar o que é preciso para que Cristo — aquele que passou 40 dias sem comer e foi servido por anjos — “cresça e que eu diminua” (Jo 3.30). Quando isso acontecer o Cordeiro terá vencido e eu serei um cristão muito melhor, para sua honra.
Rev. Misael. Publicado no Boletim 162, de 03/02/2013.