Somos a igreja de Jesus Cristo, somos abençoados. Faço questão de me lembrar disso, todas as semanas. Forço minha mente a meditar nas descrições bíblicas sobre a igreja: “Raça eleita, sacerdócio real, nação santa, povo de propriedade exclusiva de Deus”, gente com uma missão: proclamar as virtudes de Deus a todas as nações (1Pedro 2.9). Povo agraciado, transferido das trevas para o reino de Jesus Cristo.
Preciso relembrar sempre, porque sou fraco. Sou pó e cinza e, do ponto de vista da santidade, sou muito pecador. Tenho a tendência de olhar e fazer comparações. Tenho os lábios mais prontos para reclamar do que para orar e auxiliar. Meu coração é enganoso e desesperadamente corrupto, muito dado a insatisfações; minha língua é ágil para proferir juízos temerários. Minha vontade decaída se une à minha mente pervertida, buscando me desestimular a prosseguir amando e servindo a Deus na igreja, elaborando raciocínios enganos, argumentando que a igreja possui muitos defeitos e não é digna de minha dedicação ou empenho.
Eu não sei se você é assim, infelizmente, eu sou. Por isso tenho de me vigiar, e quando vacilo, peco e entristeço ao Espírito Santo. Eu não quero entristecer o Espírito, eu quero agradar a Deus no que diz respeito ao meu procedimento em sua igreja (1Timóteo 3.15). O que faço para evitar o pecado? O que faço para edificar ao invés de destruir, estimular ao invés de desanimar, contribuir ao invés de atrapalhar?
Em primeiro lugar, preciso olhar mais atentamente para Deus, o Altísimo, o Soberano, o Todo-Poderoso. Com sua providência, ele dirige todos os fatos da história, inclusive a rotina de cada igreja local. Ele é o proprietário da vinha, ele é quem produz o crescimento (1Coríntios 3.6-7). Nada do que acontece foge ao seu domínio e determinação.
Em segundo lugar, preciso olhar mais graciosa, paciente e humildemente para a igreja. Em nenhum momento da história ela foi perfeita. Isso nunca aconteceu e jamais acontecerá antes da consumação. No arraial da fé, crescem juntos o joio e o trigo (Mateus 13.24-30). Os registros apontam para heresias, disfunções orgânicas, posicionamentos extremados (ortodoxia dissociada da prática ou misticismo desmiolado) e uso dos construtos da fé para promoção política ou financeira.
A igreja hoje não está melhor nem pior do que era antes, ela é apenas o corpo de Cristo, formado por pecadores lavados no sangue do Cordeiro. Ela é o ajuntamento que está sendo santificado pelo Espírito Santo, mediante a Palavra. Ela é o grupo de seguidores que se reúne em torno da Escritura e dos sacramentos, que ora e espera, que testemunha e prossegue, às vezes eficazmente, às vezes lenta e ineficientemente, às vezes sofrivelmente. Nela encontra-se o melhor que poderia existir, para glória de Deus; nela, se encontra também o pior. Nela existem as mais ricas histórias de autodoação e compromisso; nela, encontra-se iniquidade e os mais crassos erros.
Mas a igreja continua sendo a igreja, o canal usado por Deus para ministração, aos principados e potestades, do mistério que estava oculto em Deus desde os tempos eternos (Efésios 3.1-13).
É preciso caminhar com essa consciência, com esse olhar de discernimento e misericórdia, juízo e graça. É preciso estar disposto a perseverar. É preciso da graça do Senhor para prosseguirmos sem amargura ou sem nos deixarmos escandalizar. É preciso prosseguir com uma perspectiva escatológica: a igreja é a comunidade do “já”e do “ainda não”do Reino de Deus.
Em terceiro lugar, preciso olhar mais severamente para o meu coração. A igreja é formada de pecadores, “dos quais eu sou o principal”(1Timóteo 1.15). Por isso, continuo amando-a. Encontro muitas falhas, mas nenhuma delas é maior do que as que carrego em meu próprio coração. Sou pó adorando juntamente com meus irmãos, também limitados e pecadores.
Olhar para Deus, para a igreja a partir de uma perspectiva global, histórica e para o meu próprio coração; é assim que encontro ânimo para comprometer-me com o corpo de Cristo. Convido você a compartilhar dessa visão.
Rev. Misael. Publicado no Boletim 029.