Na última semana sugeri que a fé nos convida a permanecermos no centro em meio a posições extremas, especialmente quando pensamos no delicado equilíbrio entre aquilo que vemos e aquilo que não vemos. Disse ainda que, se fôssemos cem por cento saudáveis espiritualmente conseguiríamos, sempre, permanecer contentes mesmo diante das maiores tribulações. No entanto, é comum que nos sintamos inábeis e fracos. Por que isso é assim? Por que não conseguimos simplesmente ir em frente sem suspiros de esgotamento, sem pestanejos ou dúvidas, comportamentos indignos ou sobressaltos? Nós, cristãos, pessoas de fé… por que às vezes somos tomados pela descrença e seus desdobramentos pecaminosos?
Segue uma resposta que encontro à medida em que aprendo. Somos assim porque herdamos não apenas a culpa mas a natureza pecaminosa de Adão. Esse é o início de todo conhecimento sobre nossa interioridade. A queda trouxe fragmentação, conflito, rebeldia, limitação e sofrimento (Gênesis e Romanos 3).
Tal depravação produz orgulho. Quando tateamos no escuro, em busca de uma porta, confiamos na palavra do Arquiteto e Construtor, porque o consideramos mais sábio do que nós (ele conhece o que não conhecemos) e alguém digno de confiança (ele é perfeito, santo). Toda incredulidade revela, em sua base, uma desconfiança de Deus, um questionamento de seu caráter e da bondade de sua vontade para conosco (Romanos 12.2). — Deus quer lhes passar a perna — foi o argumento da serpente ao primeiro casal (Gênesis 3.4-5). Eis-nos, pequenotes, questionando os desígnios do Amoroso Criador e Sustentador do Cosmos, petulância das petulâncias!
Sendo assim, Deus nos permite trilhar os caminhos da fraqueza e da dúvida para que enxerguemos as coisas pelo ângulo correto: “Estabelecerei a minha aliança contigo, e saberás que eu sou o SENHOR, para que te lembres e te envergonhes, e nunca mais fale a tua boca soberbamente, por causa do teu opróbrio, quando eu te houver perdoado tudo quanto fizeste, diz o SENHOR Deus” (Ezequiel 16.62-63, grifos nossos).
Tratados pela graça divina, tornamo-nos mais humanos. Identificamo-nos com o Senhor Jesus: ecce homo, eis o homem! (João 19.5). Tornamo-nos homens entre homens, pecadores entre pecadores (Isaías 6.5), convencidos de que, em nós mesmos, nada somos, e de que tudo o que somos, somos somente pela bondade de Deus. Pouco a pouco, nas ranhuras de nossa mais íntima estrutura, definem-se os desenhos do Artista Divino, que nos molda de acordo com seus sublimes projetos. Então, gentilmente, ele nos conduz da tristeza à tranquilidade e da ansiedade à paz, para glória de nosso Redentor.
Rev. Misael. Publicado no Boletim 017.
Um comentário
[…] Por que isso é assim? Sugerirei algumas respostas na próxima pastoral. […]
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