Lidamos com o incômodo. Talvez não saibamos do que se trata, mas sabemos que está lá. Traça e cupim que corrói aos poucos, até produzir o oco, um espaço vazio e danificado, fraqueza onde outrora havia rigidez. O vendaval, mais do que nos vergar, nos entorta.
Notas rápidas sobre a edição da Folha de São Paulo, da última quarta-feira. O Presidente dos Estados Unidos pronunciou-se apoiando o casamento gay. Violência sexual é o 2º tipo de coação mais frequente na infância. Em um livro recente, uma autora assume que passamos por uma transição, do culto ao caráter para o culto da personalidade. Aparência e eloquência — o que alguns chamam de marketing pessoal — são mais apreciados do que competência e integridade. De novo a roedura, o incômodo.
Franz Kafka escreveu sobre um homem que se transformou em um inseto. É possível que não percebamos uma metamorfose similar. A cultura nos modifica; o sangue humano torna-se de barata; a pele sensível dá lugar a uma casca grossa. Poucos parecem notar. O que fazer com quem é concebido sem um cérebro? Qual é o valor de um bebê antes de nascer? Vida e moral não possuem significado relevante. Incômodo.
A economia define o que é importante. “Estamos no córrego”; a máquina pública admite Cachoeiras. Mas está tudo bem, pois podemos comprar carros mais baratos. O motor do consumo gira e o sertanejo adquire sua máquina de lavar, mesmo sem usufruir de água encanada. Educação? Saúde? Ética? Novo incômodo.
Algo ruim ocorre com a humanidade em geral, conosco em particular e, por conseguinte, com nossas famílias. Deus foi relegado a uma esfera distante e muitos veneram a um “deus” domesticado. Sendo assim, a dificuldade que enfrentamos exige um retorno absoluto à fé bíblica. Incomodados, ao invés de retirar-nos, somos desafiados à prática do evangelho.
Rev. Misael. Publicado no Boletim 126, de 27/05/2012.