A blasfêmia contra o Espírito Santo (introdução)
20 Então, ele foi para casa. Não obstante, a multidão afluiu de novo, de tal modo que nem podiam comer. 21 E, quando os parentes de Jesus ouviram isto, saíram para o prender; porque diziam: Está fora de si. 22 Os escribas, que haviam descido de Jerusalém, diziam: Ele está possesso de Belzebu. E: É pelo maioral dos demônios que expele os demônios. 23 Então, convocando-os Jesus, lhes disse, por meio de parábolas: Como pode Satanás expelir a Satanás? 24 Se um reino estiver dividido contra si mesmo, tal reino não pode subsistir; 25 se uma casa estiver dividida contra si mesma, tal casa não poderá subsistir. 26 Se, pois, Satanás se levantou contra si mesmo e está dividido, não pode subsistir, mas perece. 27 Ninguém pode entrar na casa do valente para roubar-lhe os bens, sem primeiro amarrá-lo; e só então lhe saqueará a casa. 28 Em verdade vos digo que tudo será perdoado aos filhos dos homens: Os pecados e as blasfêmias que proferirem. 29 Mas aquele que blasfemar contra o Espírito Santo não tem perdão para sempre, visto que é réu de pecado eterno. 30 Isto, porque diziam: Está possesso de um espírito imundo. Marcos 3.20-30.
Pregado em 01/12/2013, às 9h, no culto de recepção de membros da IPB Rio Preto.
Introdução
Abordaremos este texto em quatro sermões: Neste e no próximo sermão, aprenderemos sobre a blasfêmia contra o Espírito Santo. A terceira mensagem abordará a amarração do “valente” e, a última, o reino dividido.
O tema da blasfêmia contra o Espírito Santo é de grande utilidade para esta ocasião, quando recebemos novos membros em nossa igreja. Como lemos nos v. 28-29, a blasfêmia contra o Espírito Santo é um pecado sem perdão. “Em verdade vos digo que tudo será perdoado aos filhos dos homens: Os pecados e as blasfêmias que proferirem. Mas aquele que blasfemar contra o Espírito Santo não tem perdão para sempre, visto que é réu de pecado eterno” (v. 28-29).
Todos os verdadeiros crentes desejam crescer continuamente “na graça e no conhecimento de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo” (2Pe 3.18). Amar e servir a Deus é a prioridade do convertido (Dt 6.4-5; Mc 12.32-33). Daí, entender a doutrina sobre a blasfêmia contra o Espírito Santo é útil para nos assegurarmos das promessas do evangelho. Quando não compreendermos este ensino tornamo-nos mais suscetíveis tanto ao rigorismo (legalismo) quanto à leviandade espiritual (mundanismo).
As proposições doutrinárias serão apresentadas em camadas. Se você já estudou sobre este assunto, talvez estranhe a ausência de citações de Teologias Sistemáticas. Eu recomendo que você estude a doutrina utilizando boas Teologias Sistemáticas. No entanto, opto por explicar a questão extraindo o máximo possível do próprio Evangelho de Marcos. O que acontece em Marcos 3.20-27 que leva Jesus a formular a declaração sobre a blasfêmia contra o Espírito Santo, nos v. 28-29? E de que modo as interações entre as personagens deste relato se encaixam no ensino geral deste Evangelho?
Considerando nossa limitação de tempo (por causa das profissões de fé e batismos), iniciaremos olhando para duas verdades óbvias e importantes. Em primeiro lugar…
I A blasfêmia contra o Espírito Santo ocorre em um contexto de oposição a Cristo
20 Então, ele foi para casa. Não obstante, a multidão afluiu de novo, de tal modo que nem podiam comer. 21 E, quando os parentes de Jesus ouviram isto, saíram para o prender; porque diziam: Está fora de si. 22 Os escribas, que haviam descido de Jerusalém, diziam: Ele está possesso de Belzebu. E: É pelo maioral dos demônios que expele os demônios.
Lembremo-nos de que todos os eventos relatados nesta parte do Evangelho de Marcos encaixam-se em uma moldura de oposição. É assim de Marcos 2.13 até 8.26. Oposição a Cristo é o elemento central que fomenta o pecado imperdoável. O texto menciona primeiro, a oposição dos parentes de Jesus: “E, quando os parentes de Jesus ouviram isto, saíram para o prender; porque diziam: Está fora de si” (v. 21). Em seguida, Jesus é contraditado pelos escribas de Jerusalém que “diziam: Ele está possesso de Belzebu. E: É pelo maioral dos demônios que expele os demônios” (v. 22).
Veremos no próximo sermão que esta oposição é mais do que uma indisposição. Trata-se de uma profunda inimizade. Sendo assim, o discípulo de Jesus Cristo (o cristão regenerado pelo Espírito Santo), não comete o pecado imperdoável, simplesmente porque ele não é mais inimigo de Deus. Antes éramos inimigos. Pela redenção, fomos tornados amigos de Deus. É o que nos diz Paulo:
10 Porque, se nós, quando inimigos, fomos reconciliados com Deus mediante a morte do seu Filho, muito mais, estando já reconciliados, seremos salvos pela sua vida; 11 e não apenas isto, mas também nos gloriamos em Deus por nosso Senhor Jesus Cristo, por intermédio de quem recebemos, agora, a reconciliação (Rm 5.10-11).
Também é o que nos assegura o próprio Jesus. Somos amigos do Redentor no discipulado, nos termos do decreto da eleição.
13 Ninguém tem maior amor do que este: De dar alguém a própria vida em favor dos seus amigos. 14 Vós sois meus amigos, se fazeis o que eu vos mando. 15 Já não vos chamo servos, porque o servo não sabe o que faz o seu senhor; mas tenho-vos chamado amigos, porque tudo quanto ouvi de meu Pai vos tenho dado a conhecer. 16 Não fostes vós que me escolhestes a mim; pelo contrário, eu vos escolhi a vós outros e vos designei para que vades e deis fruto, e o vosso fruto permaneça; a fim de que tudo quanto pedirdes ao Pai em meu nome, ele vo-lo conceda (Jo 15.13-16).
Conforme Efésios 1.13-14, os crentes todos são selados com “o Santo Espírito da promessa”:
13 em quem também vós, depois que ouvistes a palavra da verdade, o evangelho da vossa salvação, tendo nele também crido, fostes selados com o Santo Espírito da promessa; 14 o qual é o penhor da nossa herança, até ao resgate da sua propriedade, em louvor da sua glória (Ef 1.13-14).
Isso nos conduz a uma verdade bíblica preciosíssima. Antes, éramos conduzidos por “ídolos”. Agora, ungidos pelo Espírito, declaramos que Jesus é nosso Senhor.
2 Sabeis que, outrora, quando éreis gentios, deixáveis conduzir-vos aos ídolos mudos, segundo éreis guiados. 3 Por isso, vos faço compreender que ninguém que fala pelo Espírito de Deus afirma: Anátema, Jesus! Por outro lado, ninguém pode dizer: Senhor Jesus!, senão pelo Espírito Santo (1Co 12.2-3).
Voltando a Marcos, este não é o caso dos familiares, nem dos escribas de Jerusalém. Eles insistem em opor-se deliberadamente a Cristo. Este é o primeiro item distintivo, que demarca o território em que se dá a blasfêmia contra o Espírito Santo. Sendo assim, podemos questionar: Há em nós oposição deliberada a Cristo? Os que professam a fé em Jesus nesta manhã são um exemplo para todos nós. Em Mateus 10.32-33, Jesus declara que os que o confessam publicamente, serão também publicamente honrados. Os discípulos de Jesus o professam publicamente; os que blasfemam contra o Espírito Santo contradizem Jesus publicamente.
Entendemos esta diferença? Prossigamos para a segunda verdade.
II A blasfêmia contra o Espírito Santo equivale a atribuir uma obra de Deus ao diabo
21 E, quando os parentes de Jesus ouviram isto, saíram para o prender; porque diziam: Está fora de si. 22 Os escribas, que haviam descido de Jerusalém, diziam: Ele está possesso de Belzebu. E: É pelo maioral dos demônios que expele os demônios. […] 30 Isto, porque diziam: Está possesso de um espírito imundo.
Vejamos o segundo ensino: A blasfêmia contra o Espírito Santo equivale a atribuir uma obra de Deus ao diabo. Os parentes de Jesus não cometeram blasfêmia contra o Espírito Santo. A família de Jesus não o odiava, apenas não o compreendia — achava que Jesus estava “fora de si” (v. 21). No caso deles, a oposição decorria de falta de iluminação, que Jesus fornece nos v. 31-35. Os escribas de Jerusalém, porém, foram mais longe. Disseram que a obra que Jesus fazia pelo poder do Espírito Santo era uma obra demoníaca. Uma coisa é pensar que Jesus está “fora de si”, outra coisa é pensar que Jesus é um agente de Belzebu.
Verifiquemos alguns detalhes nas palavras e comportamentos relacionados à blasfêmia contra o Espírito Santo. Aqui em Marcos 3.29, tanto quanto em Marcos 2.12, o vocábulo blasphēmeō denota uso de linguagem ofensiva ou grosseira. Mais especificamente, blasfemar é desrespeitar a Deus, lançar dúvida, distorcer ou escarnecer do ser de Deus como um todo, de uma qualidade ou atributo de Deus, ou de um ato divino em particular. O que está acontecendo? Jesus está agindo, libertando pessoas do poder de Satanás. Os escribas dizem que ele faz isso pelo próprio poder de Satanás (v. 22).
Isso nos leva a uma questão muito prática. Como se daria, hoje, a blasfêmia contra o Espírito Santo? Imagine uma situação em que Deus opera algo, fala alguma coisa e você não reconhece a operação nem a ação de Deus. Você está cego para enxergar sua ação e surdo para ouvir sua voz. Pior do que isso, você se opõe. Coloca-se pronta e furiosamente contra o que Deus está falando e fazendo.
Eis o quadro. De certo modo, neste pecado, o homem obscurecido confronta o Deus Todo-Poderoso: “Eu não aceito sua obra e luto contra”. Isso é a blasfêmia contra o Espírito Santo.
Captamos o ensino? Chegou o momento de concluir.
Concluindo…
Certamente você já deve ter percebido que este ensino tem diversos desdobramentos e aplicações. Não entraremos em mais detalhes devido ao tempo reduzido. Você é convidado a atentar para o próximo sermão.
Por ora, basta saber que Marcos, neste Evangelho, nos convoca a três coisas, quais sejam, crer em Jesus, reconhecer sua pessoa e obra e acatar sua Palavra. Que isto caracterize as vidas de todos vocês que, nesta manhã, professam Cristo como Senhor e Salvador. E que seja assim com todos nós, para glória de Deus. Amém.
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