Após algum tempo de caminhada no deserto, os israelitas sentiram saudades da comida egípcia:
Os filhos de Israel tornaram a chorar e também disseram: Quem nos dará carne a comer? Lembramo-nos dos peixes que, no Egito, comíamos de graça; dos pepinos, dos melões, dos alhos silvestres, das cebolas e dos alhos. Agora, porém, seca-se a nossa alma, e nenhuma coisa vemos senão este maná (Números 11.4-6).
A rotina do deserto produz confusão e desalento. O destino é a Terra Prometida e falam de um lugar cheio de sombras aprazíveis, mas enxergamos, momentaneamente, apenas areia e sofremos debaixo do sol abrasador. Alguns descrevem o solo fértil, capaz de alimentar os rebanhos e prover trigo, legumes e frutas saborosas, mas, por ora, só temos “este maná”, tão corriqueiro, tão igual. Isso é assim na vida acadêmica, profissional, familiar e até espiritual. Até pouco tempo caminhávamos felizes; agora, olhamos em volta e pensamos: “estamos cansados, queremos outra coisa”.
O que nos torna insatisfeitos? O que nos faz desprezar o que Deus nos dá? Examino meu próprio coração e vejo egoísmo e prepotência. Olho para o Senhor, “manso e humilde de coração” (Mateus 11.29); olho para o maná, enviado diretamente por Deus, provisão rica e deliciosa. Então me arrependo.
Não há problema em querer, o pecado está em querer algo que Deus não queira. A suma da vida cristã é submeter nossos desejos à vontade divina. Sendo assim, sejamos gratos pelo maná.
Deus alimentou a Elias, o deprimido (1Reis 19.4-5). Semelhantemente, forneceu pães ao seu Filho Jesus, após a tentação (Mateus 4.11). Mais adiante, o próprio Redentor identificou-se como “o pão de Deus […] que desce do céu e dá vida ao mundo” (João 6.32-35). Por isso, a cada vez que percebo, no íntimo, alguma indisposição contra aquilo que Deus me tem dado, reconheço que se trata de resistência ao próprio Cristo, me lembro do destino dos comedores de carne do deserto e clamo por misericórdia (Números 11.18-20 e 31-34).
De certo modo, na Ceia, ao participarmos do pão cotidiano que aponta para o pão celestial, evocamos o maná. Trata-se de um pão exclusivo, a única coisa verdadeiramente singular da igreja. Qualquer religião ou associação humana pode realizar eventos e cerimônias, somente a igreja desfruta e compartilha do Senhor Jesus Cristo como “pão da vida”. É na e através da igreja que este maná é dispensado.
Você já olhou para a igreja e percebeu sua simplicidade? Nela as pessoas recebem sustento, semana após semana. Tudo muito singelo, mas poderoso e eficaz. A igreja possui o maná e se alegra nele. Os amantes da culinária egípcia não se sentem bem na igreja e quanto mais eu compreendo isso, verifico que tenho de amar mais e melhor a este povo em cujo meio é distribuído o alimento com o tempero de Deus.
Rev. Misael. Publicado no Boletim 028.