Alguém me perguntou qual é o significado da expressão “selá”, presente nos salmos e no livro de Habacuque. Em algumas traduções da Bíblia o termo foi retirado, mas é possível encontrar exemplares nos quais lemos, em Salmos 68.19: “Bendito seja o Senhor que, dia a dia, leva o nosso fardo! Deus é a nossa salvação. [Selá]”.
Respondi que “selá” era um dito de concordância, algo semelhante ao “amém” do Novo Testamento. Nesta semana, em minhas devocionais, li os textos nos quais consta “selá” e estudei um pouco mais sobre o assunto. Eu estava errado. Selá é uma anotação litúrgica e indica, simplesmente, uma “pausa”. Imaginemos os músicos do templo tocando uma melodia para o terceiro salmo; os três primeiros versículos eram entoados sem interrupção até a parte que diz “são muitos os que dizem de mim: Não há em Deus salvação para ele” – e vinha a pausa; “selá”. No original hebraico, pelo menos em uma ocasião, leremos selá higaion, literalmente “pausa seguida de som profundo” (no final de Salmos 9.16). O objetivo de selá era produzir uma interrupção não apenas de estilo, mas doutrinária e devocional. Era um modo de destacar aquelas frases que deveriam ressoar diferente na liturgia e nas almas.
Resolvi anotar em minha Bíblia todas as expressões selá. Gastei algumas horas fazendo isso e depois reli as passagens com as pausas pedindo que Deus gravasse em meu coração cada verdade destacada. Senti grande diferença em pausar para refletir depois de ler “deito-me e pego no sono; acordo, porque o Senhor me sustenta. [Selá]” (Salmos 3.5). Outras vezes, o interlúdio está inserido após um enunciado solene: “Ó homens, até quando tornareis a minha glória em vexame, e amareis a vaidade, e buscareis a mentira? [Selá]” (Salmos 4.2). Leia isso e pare; respire fundo e medite. Perceba que selá revela uma nuance rica do tom emocional dos Salmos (mesmo as ocorrências em Habacuque encontram-se no salmo que conclui aquele livro profético – cf. Habacuque 3.3, 9 e 13). A adoração verdadeira sempre envolve a mente e o coração.
Na mesma semana li Marcos 6.31: “E ele lhes disse: Vinde repousar um pouco, à parte, num lugar deserto; porque eles não tinham tempo nem para comer, visto serem numerosos os que iam e vinham”. Algumas versões bíblicas modernas não possuem mais “selá”. Será que alguns tradutores consideram que esta palavrinha não é “atual” ou “relevante”? Eis a questão: Não é apenas a música dos Salmos; nós também precisamos de pausas; tempo para meditar, equilibrar as emoções e orar calmamente. Selá nos ensina que a harmonia e beleza exigem paradas para o desfrute de Deus. Podemos nos deliciar com o ritmo divino, usufruindo destas pausas que nos abençoam.
Pastoral publicada no Boletim 91, de 25/09/2011. Rev. Misael.