Uma família de discípulos de Jesus

Pastorais (Página 12)

A estranheza da contemplação

A contemplação é uma disciplina negligenciada. “Os céus proclamam a glória de Deus; eis o mar vasto, imenso, no qual se movem seres sem conta” (Salmos 19.1 e 104.25). Tais expressões denotam proximidade da criação e percepção das evidências da presença e cuidado divinos. Contemplar e orar, enxergar pistas do Criador e adorar. Diminuir o ritmo, tranquilizar a alma, descansar e crer.…

Deus está no controle

O salmista afirma com confiança: “No céu está o nosso Deus e tudo faz como lhe agrada” (Salmo 115.3). Nesses tempos duros, eis uma verdade a ser relembrada. Não estamos sós, Deus cuida de nós; os fatos que nos acometem decorrem das determinações do Senhor. Para algumas pessoas, o ensino bíblico sobre a soberania de Deus pode parecer ofensivo; a ideia de…

Mães preciosas

É comum ouvirmos relatos de conversões em que são citadas mães que labutaram, em oração, anos a fio por seus filhos. O evangelho de Marcos registra a história de uma mulher que humilhou-se aos pés do Senhor, com o objetivo de obter libertação para sua filhinha, possessa de um espírito imundo (Marcos 7.24-30). O relato é tocante. O Redentor testou aquela senhora,…

Conquistando a Lagoa Azul

Recordo-me bem de uma visita que fiz a Pirenópolis, cidade histórica, fundada em 1727, por bandeirantes, durante o ciclo do ouro. Saboreei uma comidinha feita em fogão de lenha, tomei um café torrado em casa, e decidi levar a família para conhecer a Fazenda Bonsucesso, uma das mais tradicionais da região. Ali seguimos por uma trilha de 1.500 metros, com destino a…

Fraqueza, graça e humanização

Na última semana sugeri que a fé nos convida a permanecermos no centro em meio a posições extremas, especialmente quando pensamos no delicado equilíbrio entre aquilo que vemos e aquilo que não vemos. Disse ainda que, se fôssemos cem por cento saudáveis espiritualmente conseguiríamos, sempre, permanecer contentes mesmo diante das maiores tribulações. No entanto, é comum que nos sintamos inábeis e fracos.…

O delicado equilíbrio da fé

A fé é cheia de convites para permanecermos no centro em meio a posições extremas. Não que ela seja flácida, conformista ou diplomática, pois em certos contextos exige radicalismos e beligerância. Mas ela possui este aspecto delicado, tênue e ao mesmo tempo perigoso de fio da navalha, de corda bamba — quando precisamos tomar uma posição e, se esta for extremada, estamos…

Pressão

A boca fica seca e o ritmo dos batimentos cardíacos aumenta. A mente parece entrar em pane, os pensamentos vão e vêm tresloucadamente, sem conexão aparente. É como se as veias se comprimissem dificultando a passagem do sangue, como se o coração estivesse sendo apertado por mãos invisíveis. Sentimos isso ao sermos submetidos à pressão. De acordo com o Dicionário Eletrônico Houaiss,…

Fé perseverante

Pastoral

A salvação não decorre de nossas obras, mas da graça divina mediante a fé em Cristo como Senhor e Redentor. Olhamos para a pessoa do Filho de Deus, compreendemos que ele, com sua morte, satisfez a justiça do Altíssimo, pagando o preço exigido por nossos pecados. Sabemos que, por sua ressurreição, ele derrotou a morte. Verificamos nossas entranhas e procedimentos e confessamos: “Pequei, perdoa-me e salva-me” — e somos salvos, acolhidos por Deus nessa confiança em tudo o que ele providenciou graciosamente para nós.

Inicia-se uma nova fase, quando começamos a andar com ele, no discípulado. Aprendemos a crer nele para nossa provisão. Articulamos as primeiras preces e entregamos a ele as nossas causas. Suplicamos confiantes: é a fé em que Deus cumpre suas promessas e atende as orações. Nessa fase somos treinados pelo Espírito Santo na audácia filial e na perseverança. Descobrimos que a fé não é apenas doutrina, mas experiência de suprimento diário, confirmação, pelas bênçãos de Deus, da presença e aprovação desse Deus. Como filhinhos de colo, somos nutridos no peito e protegidos até estarmos prontos para os passos seguintes rumo ao amadurecimento.

Individualidade sem individualismo

Pastoral

Individualidade é “o que constitui o indivíduo; caráter especial, particularidade ou originalidade que distingue uma pessoa”. Nesses termos, verificamos que o Senhor Jesus valoriza a individualidade. Ele pediu a um homem atrofiado para estender sua mão, curando-o (Marcos 3.1-3). Expulsou os demônios do cidadão de Gadara e devolveu-o ao convívio dos seus familiares (Marcos 5.6-20). Tocou os ouvidos e aplicou saliva sobre a língua de um surdo e gago, liberando-o para ouvir e falar (Marcos 7.31-36). Convidou-se para uma festa na casa do publicano Zaqueu (Lucas 19.1-5) e investiu precioso tempo conversando com uma mulher de má fama (João 4.10-30). Ele nunca repetiu um “método”, nunca ministrou como se os ouvintes fossem meros números, mas sempre considerou cada ser humano como um universo a ser compreendido, respeitado e tocado pelo poder de Deus.

Pêndulos e equilibristas

Pastoral

Pêndulos são objetos oscilantes. Ao serem empurrados, movem-se de acordo com a força gravitacional, ora para a direita, ora para a esquerda. Equilibristas também se movem, mas fazem isso normalmente em linha reta, esforçando-se para manter-se em uma só direção, com o mínimo possível de oscilações.

É mais fácil ser pêndulo do que equilibrista. Pra começar, porque o primeiro é um simples objeto, movido por impulsos externos, sem necessidade de inteligência. Já o equilibrismo é uma arte que exige treino e uso intenso da concentração. Qualquer um pode ser balançado de um lado para outro, estando bem amarrado e pendurado. Poucos são capazes de atravessar um espaço de 50 metros sobre uma corda, em perfeito equilíbrio. Daí podermos pensar nestas duas coisas como sendo padrões antagônicos, um que leva à precipitação e outro que produz maturidade.

Salvo, santo, servo

Pastoral

Uma forma interessante de resumirmos os resultados da aplicação do evangelho em nossas vidas é utilizando o critério dos três “s”. Primeiramente o cristão é alguém salvo pela graça que opera através da fé (Efésios 2.8-9). Ser salvo é experimentar a regeneração, uma obra do Espírito Santo que nos concede uma nova natureza e que também é chamada de “novo nascimento”. Conforme o Senhor Jesus, “quem não nascer da água e do Espírito não pode entrar no reino de Deus” (João 3.5). Esta operação divina no coração é a primeira marca do verdadeiro discípulo.

O Cristão é alguém santo (1Coríntios 1.2). Isso aponta para duas ações divinas: Na conversão, Deus nos separa para ele e, a partir de então, inicia em nós uma obra progressiva de aperfeiçoamento moral (Efésios 1.4, 12, 4.1-6.20). Esta é uma marca distintiva: ausência de santidade implica em ausência de conversão. O Espírito Santo, que reside em nós, produz purificação e frutos de justiça (Romanos 8.1-11; 1João 1.7-10; Apocalipse 14.1-5, 19.7-8).

Adoração dominical

Pastoral

No culto cristão culminam todos os serviços prestados na semana e são encontrados os significados da existência. Diante do Santíssimo nossos pecados são confessados, recebemos absolvição por meio do sangue de Jesus e somos transformados. A graça divina é dispensada a nós pela Palavra pregada e pelos sacramentos. Temos ainda a oportunidade de consagrar a Deus nossos corações, posses e realizações, e de proclamar e fortalecer a fé por meio de cânticos e orações, tudo isso ungido e aplicado pelo Espírito Santo.

O culto é, portanto, um grande evento, o domingo é o dominicus, o “dia do Senhor” e o Quarto Mandamento foi-nos dado a fim de liberar-nos para adorar: “Seis dias trabalharás e farás toda a tua obra. Mas o sétimo dia é o sábado do SENHOR, teu Deus; […] o SENHOR abençoou o dia de sábado e o santificou” (Êxodo 20.9,11). Longe de estabelecer uma guarda legalista do sábado, o texto nos chama a uma busca especial de Deus em um dia dentre os sete, uma pausa para adoração fiel e inspiradora. Os discípulos, que começaram a reunir-se no domingo — o Dia da Ressurreição — para partir o pão e louvar a Cristo, consagraram o primeiro dia da semana como o sábado cristão (Atos 20.7).

A propriedade divina

Pastoral

“Eu sou do meu amado, e o meu amado é meu”. Esta é a afirmação convicta feita pela esposa descrita em Cantares 6.3 e reflete com exatidão a relação do Senhor com a igreja, caracterizada por afeto proveniente do amor incondicional a nós dispensado por Deus e de nossa resposta de amor, ainda que imperfeita, ao nosso Criador e Redentor.

Este senso de mútuo pertencimento é reforçado na liturgia e na doutrina. Liturgicamente, reafirma-se a aliança nos cânticos e orações. Doutrinariamente, relembrando as promessas feitas a Abraão e Jacó, bem como as revelações dadas no Sinai, confessamos que o Senhor é o “Deus de Israel”, o “nosso Deus”, enquanto nós somos o seu povo, separado dentre as nações para a sua glória (Êxodo 19.5, 20.2; Salmo 100.3; 1 Reis 17.1).

O passado passou

Pastoral

O título acima é uma redundância, uma obviedade. Qualquer pessoa em sã consciência sabe disso e uma afirmação contrária é tida por ilógica e insconsistente. O autor bíblico afirma que, de certa maneira, nada se altera: “Há alguma coisa de que se possa dizer: Vê, isto é novo? Não! Já foi nos séculos que foram antes de nós” (Eclesiastes 1.10). Por outro lado, a história, segundo as Escrituras, é linear, segue uma linha que tem início, meio e fim. Ao contrário dos orientalistas, que vêem a história como um ciclo ininterrupto de recomeços, enxergamos que esta é formada por estágios nomeados como passado, presente e futuro.

A nova lógica do “Senhor Cliente”

Pastoral

Calabreza é um bom sabor de pizza, mas não para quem pediu por uma napolitana. Frustração, irritação e, em alguns casos, fúria. Fomos desconsiderados e diminuídos em nossas reivindicações. Como clientes exigentes queremos ser atendidos detalhadamente, senão reclamamos, abandonamos o restaurante e até acionamos os órgãos de defesa ao consumidor.

Nosso coração é assim, não gosta de ser contrariado. “O Cliente é o Rei”, dizem. Então, que se aplique essa lógica ao restante da existência. Na vida conjugal “faça-me feliz ou eu troco de cônjuge”, no ambiente acadêmico “mudem as regras das avaliações ou eu mudo de escola” e na vida espiritual “agradem-me ou eu me transfiro de igreja”. Como afirmei no Boletim anterior, é a lógica do mercado, em sua versão evangélica.

Se as coisas continuarem assim, dentro em pouco teremos Santa Ceia entregue por motoboys e pagamento de dízimo pela Internet. Os “clientes” têm cada vez menos tempo, precisam de uma igreja que se adapte a eles e da qual eles migrem ao menor sinal de desagrado, desgaste ou chateação.

Consumidores ou adoradores?

Pastoral

O universo empresarial é governado pela competitividade. Sobrevivem os que se adequam às orientações do mercado. “Conquiste clientes ou morra”— eis o lema dos empreendedores vitoriosos. Tal orientação tem sido assumida por diversos tipos de organizações. Para as entidades filantrópicas é preciso estimular os mantenedores; órgãos governamentais querem agradar ao contribuinte e partidos políticos investem em fidelizar seus afiliados em um contexto de muita concorrência.

A igreja começa a reproduzir este modelo. Hoje somos um mercado. Basta trocar a palavra “cliente” por “membro” e, no fim das contas, pastores se tornam executivos e as atividades das igrejas, estratégias para aumentar suas “fatias” no segmento dos crentes. Isso tanto é assim que não se estranha o fato de produtoras tradicionalmente ligadas à música não-cristã bancarem gravações de bandas gospel, nem ainda a proliferação de revistas ditas evangélicas que vendem pregações e palestras de pastores que praticam marketing de guerrilha no afã de divulgarem os produtos de seus “ministérios”.

Quem é capaz?

Um dos aspectos aparentemente contraditórios da obra divina é a relação entre suficiência e insuficiência. O apóstolo Paulo fala sobre isso em 2Co 2.15-16: “Porque nós somos para com Deus o bom perfume de Cristo, tanto nos que são salvos como nos que se perdem. Para com estes, cheiro de morte para morte; para com aqueles, aroma de vida para vida. Quem,…